O diagnóstico é do diretor da Vigilância em Saúde de Porto Alegre, Fernando Ritter: o apagão de dados do Ministério da Saúde fez com que Estados e municípios perdessem para sempre informações importantes para montar os mapas de incidência de casos de covid-19 no Brasil. Além de comprometer a credibilidade das estatísticas, que até hoje estão defasadas, a demora em restabelecer os sistemas fez com que Estados e municípios demorassem mais para identificar o salto no número de testes positivos e a confirmação da transmissão comunitária da variante Ômicron.
Na prática, significa que milhões de brasileiros viajaram para os feriados de Natal e Ano-Novo — de carro, de ônibus e de avião — sem ter a percepção do risco de se contaminar e de transmitir o vírus para as famílias. No período de 10 a 23 de dezembro, ficou um hiato que tão cedo não será preenchido, porque com o aumento do número de casos, mais as férias dos servidores e os afastamentos por infecção, centenas de prefeituras não conseguem inserir no sistema informações anotadas em papel. Cada prefeitura desenvolveu seu próprio método de contagem — do risquinho em uma folha de papel a planilhas mais sofisticadas.
— Sem os dados, ficamos às cegas. Sabíamos o que estava acontecendo no mundo e não tínhamos nenhuma razão para imaginar que aqui fosse diferente. Em Porto Alegre, decidimos trabalhar com amostras, porque sabíamos que o número estava crescendo e era preciso dar essa sinalização para a população — diz Ritter.
O apagão afetou principalmente o e-SUS Notifica e o Sivep Gripe. Mesmo quando os dados puderam ser inseridos no sistema, não era possível saber se estavam aparecendo para a Secretaria Estadual de Saúde, que consolida as informações das regiões. Há dúvidas se os testes feitos pelas farmácias estão entrando no sistema do Ministério da Saúde em tempo real.
Os dados dos últimos dias mostram a velocidade de transmissão do vírus. Nas unidades do município de Porto Alegre, foram 573 casos positivos na quinta-feira (6), 747 na sexta (7), 1.944 na segunda-feira (10) e 1.494 nesta terça-feira (11).
As internações ainda não apresentam números alarmantes, até porque os hospitais vinham operando com capacidade ociosa, mas a Vigilância está atenta. Nas UTIs de Porto Alegre eram 27 internados na véspera do Ano Novo. Hoje, são 41 confirmados e 10 suspeitos. Há uma criança internada em UTI com covid e três com suspeita.
De todos, o sistema mais afetado é o da vacinação. Ritter calcula que há entre 150 mil e 200 mil doses aplicadas e não lançadas no painel.