Se você vive em Porto Alegre, tente por um momento se imaginar no lugar de alguém do Interior, de outro Estado ou país, que decide passar uma semana em Porto Alegre fazendo turismo. Ou três dias, para não exagerar. Antes que alguém diga que Porto Alegre não tem vocação turística, peço licença para discordar. Estamos tão acostumados a só olhar os problemas (e são muitos) que temos dificuldade para olhar essa senhorinha de 249 anos com o carinho que ela merece.
Os pessimistas dirão que a os trechos revitalizados da orla do Guaíba podem ser vistos em meia hora, passando de carro lentamente e não há mais nada para ver. Errado. A Orla é para ser apreciada a pé, desfrutada de bicicleta, curtida a qualquer hora do dia e até um pedaço da noite. A iluminação projetada por Jaime Lerner é apenas um dos atrativos deste pedaço de cartão-postal. O Parque Marinha do Brasil é um convite ao descanso nas tardes de verão.
O Centro Histórico está longe do ideal, mas tem restaurantes divinos, igrejas incríveis e prédios que a gente fotografaria se estivessem em qualquer país do mundo: o Margs, o Memorial, a prefeitura, o Mercado Público, o Theatro São Pedro, a Catedral, o Palácio Piratini, a Igreja das Dores. No Mercado Público, quem não conhece o Naval e o Gambrinus não sabe o que está perdendo.
A intervenção recente no Muro da Mauá deixou bonito aquilo que sempre foi uma ferida no Centro. Arrisco-me a dizer que nos próximos anos deve ser congelada a discussão sobre derrubar o muro ou cortá-lo pela metade. Ele foi construído como proteção contra as cheias, que talvez nunca mais ocorram, mas hoje evitam que os armazéns sejam alvo de pichadores e vândalos que depredam o patrimônio público. Quando sair o projeto de revitalização daquela área, aí sim é hora de discutir se o muro fica ou sai, mas agora está de bom tamanho com as parcerias que a prefeitura encontrou para melhorar a aparência sem gastar dinheiro público.
Já são perceptíveis algumas mudanças na aparência das praças e rótulas, menina dos olhos da secretária Ana Pellini. Há buganvílias na rótula próxima ao Gasômetro. Ah, o Gasômetro! Não se sabe se a reforma ficará pronta para os 250 anos, mas é um patrimônio da cidade, visto de qualquer ângulo. O esqueleto do aeromóvel vai virar alguma coisa — talvez ali se construa um espaço para ser o museu da herança do visionário Oscar Coester, seu idealizador.
Sim, há muito por ser feito. A Praça da Matriz precisa se livrar dos tapumes. O Viaduto da Borges carece de uma intervenção que valorize sua beleza. A Praça da Alfândega deve ser um centro de atração de turistas e porto-alegrenses não só na Feira do Livro. Toda a cidade precisa ser mais limpa — e nisso depende de todos nós.
Fora do Centro também há muito para apreciar, mas esta crônica já se estendeu demais para uma leitura de domingo. Fica para uma próxima.