A esperança de que Paula Porcello escrevesse “tenho boas notícias, o pai apresentou melhora significativa” acabou na manhã deste domingo (7), quando li o post dela comunicando que o querido colega Flávio Porcello não resistiu à maldita covid-19. Foram 40 dias de luta, em que a filha Paula manteve os amigos informados sobre a evolução do quadro. Ora nos enchia de esperança, ora nos deixava preocupados porque alguma intercorrência atrasava a recuperação.
Hoje acordei com o post da Paula, amorosa como sempre, falando deste pai incrível de quem ela herdou o nome, a serenidade e o talento para a escrita. Menina valente, enfrentou com força descomunal esse calvário que o coronavírus impõe aos pacientes, à família e aos amigos.
Aos 70 anos, jovem demais para morrer, Porcello nos deixou. No post derradeiro, Paula escreveu: “Ele deixou, com certeza, o mundo mais alegre e mais colorido, sempre otimista e vendo o lado bom das pessoas e das situações. Com a maior honra eu carrego o nome dele por esta vida afora e colho os frutos de tudo o que ele plantou. Os amigos que o pai me deixa são minha maior herança”.
Não vou aqui discorrer sobre o currículo de Porcello, jornalista e professor, mas falar da pessoa que conheci como colega e, depois, amado por seus alunos, falando com eles na universidade. Perdemos um cavalheiro, um homem gentil que deixou sem palavras amigos que vivem da escrita. O que dizer? Que a morte é injusta.
Eu gostaria de acreditar que existe outra vida, que a alma de Porcello nesta hora sobrevoa lagos e campos de papoulas, que enxerga a Terra azul de outra dimensão, que em um mundo sem injustiças olhará por Paula, pela mãe de 93 anos, pelos que aqui choram sua ausência. Porcello honrou nossa profissão e ensinou a seus alunos que vale a pena ser ético, justo e comprometido com o esforço por um mundo melhor.