Pela natureza do meu trabalho, não sou de fazer campanha para candidatos a qualquer cargo, mas hoje abro uma exceção para exercer meu bairrismo, mesmo sabendo que provavelmente esta mensagem não chegará ao Olimpo onde os eleitores se reúnem para tomar chá com bolo. Quero ver Luiz Coronel na Academia Brasileira de Letras. E justifico: ele é um dos maiores poetas do Rio Grande do Sul.
É verdade que se o talento para a escrita fosse o critério para entrar na ABL, o RS não teria somente Carlos Nejar usando o fardão. Teríamos Luis Fernando Verissimo, Luiz Antônio Assis Brasil, Sergio Faraco, Maria Carpi, Cíntia Moscovich e tantos outros que os leitores conhecem. Mas não é assim. Os imortais são escolhidos pelos outros imortais, numa eleição sem participação dos leitores. Em outras palavras, não deixa de ser uma escolha política, que muitas vezes ignora completamente o serviço prestado às letras.
Coronel é candidato porque a universidade lá de Bagé, sua terra, o indicou. Alguém tem de lançar a candidatura. Mandou exemplares de sua obra para os acadêmicos, mas não está disposto a fazer o beija-mão. Por beija-mão leia-se visitar um a um dos acadêmicos e pedir seu voto, uma coisa bem constrangedora, dado que, em tese, o candidato deveria ser escolhido pelo valor de sua obra.
Alguém poderá dizer que Coronel é regional demais para a Academia Brasileira de Letras. Ledo Ivo engano, como diria o colega David Coimbra. A poesia é universal, ainda que muitas vezes Coronel use palavras que o resto do Brasil não conhece. Ou não é o Brasil essa mistura cultural que nos faz amar Jorge Amado (com o perdão da redundância), Guimarães Rosa e Graciliano Ramos?
Os poemas deste Coronel sem farda, mais conhecidos porque musicados viraram canções na voz de artistas como Fafá de Belém e Marco Aurélio Vasconcellos, evocam imagens que só um grande artista é capaz de criar. As histórias de Leontina das Dores têm um quê de Tostoi, só que em versos rimados.
Particularmente, gosto muito da romântica Cordas de Espinho, aquela que começa com “geada vestiu de noiva/ os galhos da pitangueira”. Percebam a força desta associação: “Pra domar o meu destino/ comprei um buçal de prata/ nenhum pesar me derruba/ qualquer paixão me arrebata”. Ou então: “Acordoei minha viola/ Com seis cordas de espinho/ Meu canto tem cor de sangue/ Teu beijo, gosto de vinho”.
O que me fez assumir a defesa da candidatura de Coronel não foi só a beleza de sua poesia. Foi o que ele disse à querida Shana Müller na manhã deste domingo na Rádio Gaúcha e que poderá ser usado contra sua candidatura pelos imortais de visão menor:
— Se eu for para lá, não vai ser para tomar chazinho com bolo.
E seguiu falando de algumas iniciativas culturais capazes de tirar o mofo da ABL. Pode não ser escolhido, mas cresceu no meu conceito e me fez trocar o assunto desta crônica em cima da hora. Para seus fãs, Coronel já é imortal há muito tempo, pelo serviço que presta à cultura, inclusive convencendo o Zaffari a investir em obras primas e divulgar os grandes nomes da literatura universal a cada ano.