O PSDB nasceu nos anos 1980 para se livrar do fisiologismo do então PMDB. Antes de virar partido, era o MUP, Movimento de Unidade Progressista. Trinta e três anos depois, o partido que elegeu Fernando Henrique Cardoso por duas vezes, no primeiro turno, vive uma crise existencial que ficou escancarada na prévia que não terminou.
A elegância tucana, uma das características mais marcantes de FHC, foi substituída pelo clima de desconstrução dos adversários internos, uma política fratricida que só serve aos inimigos externos. O PSDB virou piada entre os simpatizantes de Luiz Inácio Lula da Silva, Jair Bolsonaro, Sergio Moro e Ciro Gomes. Quanto mais penas e bicos quebrados, melhor para os outros. Leite acusou Doria de tentar comprar votos. Virgílio chamou o governador gaúcho de menino mimado.
A crise tecnológica do aplicativo que não deu certo serviu para aprofundar o fosso que separa os aliados de João Doria dos simpatizantes de Eduardo Leite. Não bastasse lavar roupa suja em praça pública, os tucanos transformaram a disputa numa feira livre de insultos com nome de frutas. Picolé de chuchu, apelido de Geraldo Alckmin, ficou até simpático.
Arthur Virgílio disse o que muitos tucanos pensam: Aécio Neves, aliado de Leite em Minas, é a maçã podre que contamina o cesto. Aécio respondeu que Virgílio é laranja de Doria. O vencedor da prévia, se houver, terá de descascar abacaxis e cuidar para não colocar o pé na jaca.
O prazo dado pelo presidente Bruno Araujo para que a Faurgs respondesse em quanto tempo conseguiria sanar os problemas do aplicativo – 11h da manhã de segunda-feira – não foi cumprido. Ao entrar para a reunião que decidiria sobre a nova data da votação, Leite chegou a falar em voto de papel, o que seria a capitulação diante do fracasso tecnológico.
Pouco depois das 19h30min, a direção nacional do PSDB divulgou uma nota que atesta o tamanho da confusão. A nota diz que a votação será concluída até domingo (28) e que essa decisão foi tomada em conjunto pela direção do partido e pelos três candidatos.
O problema é que a mesma nota deixa claro que a Faurgs ainda não conseguiu responder se tem condições de levar a votação adiante com segurança, nem informou quais foram os problemas que levaram ao colapso do sistema no domingo. Diz a nota que se a Faurgs não oferecer "garantias concretas de viabilidade e robustez da solução contratada, o PSDB adotará tecnologia privada para concluir o processo de prévia". De acordo com informações extraoficiais, a empresa que realizou a eleição na OAB-RS com sucesso foi sondada pelo PSDB.
Confira a íntegra da nota
"A votação para escolha do candidato do PSDB à presidência da República será concluída até o próximo domingo, dia 28. A decisão foi tomada em conjunto pela direção do partido e pelos três pré-candidatos.
O partido ainda aguarda manifestação da empresa contratada, a Faurgs. Se, até esta terça-feira, ela não oferecer garantias concretas de viabilidade e robustez da solução contratada, o PSDB adotará tecnologia privada para concluir o processo de prévias. Em qualquer alternativa, a integridade do processo eleitoral será rigorosamente observada.
Como afirmado em nota divulgada ontem, até o momento a Faurgs não apresentou conclusões sobre as razões das dificuldades.
Reiteramos que todos os votos registrados desde a abertura da votação neste domingo estão válidos e serão computados."