Vista à distância, a operação de busca e apreensão em propriedades do cantor Sérgio Reis, do deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ) e de outros bolsonaristas acusados de incitação à violência parece desproporcional ao peso dos investigados. Quase como queimar a casa para livrar-se de meia dúzia de ratos.
O Ministério Público Federal, no entanto, entendeu que o grupo não era apenas uma confraria de bravateiros, mas uma turba com influência e poder político e econômico para causar distúrbios no pós Sete de Setembro, com ameaças de quebrar o prédio do Supremo Tribunal Federal e fomentar uma greve de caminhoneiros capaz de parar o país.
Note-se que neste caso não se trata de voluntarismo do ministro Alexandre de Moraes. Foi o Ministério Público Federal, tantas vezes acusado de fazer vista grossa aos ataques às instituições, quem mapeou as ações planejadas para o Sete de Setembro e identificou sinais de perigo. O pedido de busca e apreensão é assinado por ninguém menos do que Lindôra Araújo, subprocuradora identificada com o bolsonarismo e mulher de confiança do procurador Augusto Aras, que busca o apoio do Senado para continuar no cargo.
Sozinha, a história de dar prazo de 72 horas para o Senado afastar os ministros Alexandre de Moraes e Luiz Roberto Barroso, anunciada pelo sertanejo, seria apenas cômica. O que levou o Ministério Público Federal a aprofundar a investigação foram os indícios de que a “manifestação espontânea” tinha se transformado em ação mais abrangente, com ameaças à lei e à ordem, financiadas pelos organizadores, com promessa de comida farta e abrigo em Brasília, pelo tempo que for necessário.
Dos alvos da operação desta sexta-feira, o único conhecido do grande público é o cantor sertanejo Sérgio Reis, que se arrepende de ter dito o que disse em uma gravação na qual incita seus fãs a quebrarem tudo, se o Senado não afastar Barroso e Moraes. Acuado, o consagrado intérprete de Chalana e O Menino da Porteira disse ao jornal O Globo que suas declarações incendiárias não passaram de brincadeira compartilhada no WhatsApp, que não deveria ter vazado. O tom do áudio não é de brincadeira. Sérgio Reis não mediu as consequências de suas palavras ou, como disse sua esposa, não teve consciência “do tamanho que tem”.
A busca e apreensão pode esclarecer se era só bravata ou não, mas há um exagero em proibir a presença de Sérgio Reis, Otoni de Paula e outros investigados nas cercanias da Praça dos Três Poderes. Com a decisão, Alexandre de Moraes acaba dando aos personagens deste enredo uma dimensão que não têm e transformando-os em vítimas aos olhos dos radicais que defendem uma greve de caminhoneiros sem pensar no prejuízo que causaria ao país.
Sem reclamação
Os organizadores dos protestos de 7 de setembro não podem reclamar do bloqueio do PIX, determinado pelo Supremo Tribunal Federal. Afinal, se a manifestação é espontânea, não precisa de dinheiro - nem de mortadela.