Preso nesta sexta-feira 13 por decisão do ministro Alexandre de Moraes, que atendeu a um pedido da Polícia Federal, o presidente do PTB, Roberto Jefferson, é um personagem menor na história do Brasil. Tanto provocou, intimidou e difamou que voltou para a cadeia, ele que por lá passara condenado por corrupção. Agora é preventiva, acusado de fazer parte de uma milícia digital que ameaça a democracia e incita à violência.
Nas 38 páginas do despacho em que determinou a prisão, o ministro transcreve trechos de entrevistas e manifestações em redes sociais que justificariam a prisão preventiva. A maior parte são entrevistas dadas a veículos de quase nenhuma expressão, amplificadas nas redes sociais bolsonaristas.
Nos meios jurídicos, há controvérsias em relação à detenção. Parte dos advogados entende que a prisão não se justifica e que Jefferson estaria amparado pelo direito à liberdade de expressão. Outra ala, com a qual se alinham integrantes do Ministério Público, sustenta que ele extrapolou os limites da liberdade de expressão ao pregar a luta armada, o ataque aos poderes e o desrespeito às instituições. O desenrolar do trabalho de Alexandre de Moraes irá no futuro esclarecer a dimensão e os riscos das atividades de Jefferson, que, além de tudo, preside um partido.
Advogado de formação, Jefferson atuou por muitos anos no Tribunal do Júri e levou para a política seu estilo teatral. Era um desses deputados que fareja o cheiro de poder. Foi um dos líderes da tropa de choque de Fernando Collor, em 1992. Quando Lula se elegeu, entrou com seu PTB para a base do governo, conquistando ministérios e cargos em estatais. Na partilha, coube-lhe uma das joias da coroa, os Correios, até então uma das empresas públicas mais respeitadas do país.
Em 2005, a revista Veja divulgou um vídeo no qual o funcionário dos Correios Maurício Marinho aparecia recebendo propina e falando de um esquema montado dentro da empresa para desvio de dinheiro dos contratos com fornecedores. Dizia Marinho: “Aqui nós somos três que trabalhamos fechado. Os três são designados pelo PTB, pelo Roberto Jefferson”.
Ao ser acusado de envolvimento no esquema dos Correios, Jefferson resolveu botar a boca no trombone e, numa entrevista à jornalista Renata Lo Prete, na época na Folha de S.Paulo, delatou um esquema de compra de apoio parlamentar, que batizou de mensalão, e do qual fazia parte. O nome pegou. No início, Jefferson acusou o então ministro José Dirceu de comandar o esquema e garantiu que Lula era inocente. Dizia que Lula tinha as mãos limpas e que deveria se afastar de José Dirceu antes que fosse tragado pelo escândalo.
Dirceu e Jefferson tiveram os mandatos cassados e, anos mais tarde, foram condenados por corrupção. Lula escapou, foi reeleito em 2006, e só seria condenado anos depois de deixar o poder, em outro escândalo, o da corrupção na Petrobras, cujas sentenças foram anuladas recentemente pelo Supremo Tribunal Federal e a investigação transferida de Curitiba para a 1ª Vara da Justiça Federal, em Brasília.
De aliado, Jefferson virou um dos principais algozes do PT e hoje, mesmo sem mandato, integra a tropa de choque do presidente Jair Bolsonaro. Ataca com virulência todos os que possam representar uma ameaça ao projeto de poder de Bolsonaro e, nos últimos meses, elegeu os ministros do Supremo Tribunal, a quem chama de “urubus”, como seus alvos preferenciais.
Ao saber que tivera a prisão decretada, encaminhou mensagens de áudio aos “leões e leoas conservadoras” de grupos de WhatsApp, chamando o Supremo de “organização criminosa a serviço dos comunistas” e atacando o ministro Alexandre de Moraes, a quem chama de “Xandão”, “maridão de dona Vivi” e “cachorro do Supremo”. Em uma das mensagens ameaça: “Eu já falei pro Xandão e vou repetir. O buraco comigo é mais embaixo. Eu sei que você é metido e valente. A nossa conta é pessoal. Daqui pra frente é pessoal, Não tem saída (...) O que é pessoal, pessoalmente se resolve, e a vida vai nos colocar frente à frente para que pessoalmente nós possamos resolver este problema”.
No final, sobrou até para os pais de santo e os gays (uma obsessão de Jefferson). E com a linguagem vulgar que é uma de suas marcas registradas, encerrou: "Aí tem os ministros de rabo preso e os de rabo solto". E assim segue a atual política brasileira.