Mais uma pesquisa, desta vez do Ipec, instituto criado por ex-executivos do Ibope Inteligência, e divulgada pelo site G1, constatou um baque na popularidade do presidente Jair Bolsonaro. Comparada ao levantamento anterior do instituto, feito em fevereiro deste ano, a aprovação de Bolsonaro caiu sob todos os pontos de vista e chegou ao pior nível, se cotejada com as pesquisas de outros institutos. Em fevereiro, 39% consideravam o governo ruim ou péssimo. Agora, são 50%. O índice de bom e ótimo caiu de 28% para 23%. O regular foi de 31% para 23%.
Respeitadas as diferenças de metodologia, é possível, sim, comparar com recente levantamento do Ipespe, encomendado pela XP Investimentos. A pesquisa XP/Ipespe de junho mostrava uma curva descendente, com números bastante parecidos: 50% de ruim e péssimo e 26% de bom e ótimo.
O Ipec ouviu 2.002 pessoas em 141 municípios, de 17 a 21 de junho. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.
Outras duas perguntas evidenciam o derretimento da popularidade do presidente. Quando questionados se aprovam ou desaprovam a maneira como Bolsonaro governa o Brasil, 30% responderam que aprovam e 66% que desaprovam. Na pesquisa anterior, 38% aprovavam e 58% reprovavam o governo.
Quando a pergunta é se o entrevistado confia no presidente Bolsonaro, 30% responderam que sim e 68% disseram não confiar.
Ainda que nas redes sociais as pesquisas sejam tratadas com desdém pelos bolsonaristas, o comportamento do presidente indica que ele conhece os números e está preocupado. Para quem é candidato à reeleição e está em franca campanha, ser rejeitado por dois terços dos eleitores é mau sinal. Como ainda faltam 15 meses para a eleição e os adversários, com exceção do ex-presidente Lula, ainda não entraram em campo, é cedo para dizer que Bolsonaro está inviabilizado ou que perde para qualquer um, menos para Guilherme Boulos, como mostrou a pesquisa da XP. Tudo vai depender do comportamento da economia, da evolução da pandemia (que tende a melhorar com a vacinação), do andamento das investigações das denúncias de corrupção e do humor dos eleitores.
Hoje, a avaliação negativa pode ser explicada por um conjunto de fatores que desgastam o governo, a despeito da versão vendida nas redes bolsonaristas. O crescimento de 1,3% do PIB no trimestre, por exemplo, é uma excelente notícia, mas ainda não produziu efeitos práticos na vida dos brasileiros nem anima a população em geral, seja porque o desemprego segue em alta, seja porque a inflação corroeu o poder de compra dos trabalhadores, seja porque o auxílio emergencial de 2021 chegou atrasado e em valores insuficientes para as necessidades básicas das famílias.
A inflação é, no momento, o calcanhar-de-aquiles de Bolsonaro. Ao operário que vê o preço dos alimentos disparar, não adianta a ministra da Agricultura dizer que é bom para o país exportar mais e que temos de nos conformar com a ideia de que o arroz, o feijão e a carne não voltarão aos patamares anteriores. Ao trabalhador que vê o preço do gás (administrado pelo governo) ir às alturas e o botijão se esvaziar antes do fim do mês, o país da propaganda governista é irreal. Ao cidadão comum que pena para encher o tanque de seu carrinho popular, com a gasolina beirando os R$ 6, o ronco das motos de apoiadores de Bolsonaro não impressiona.
Aos problemas da economia soma-se a gestão equivocada da pandemia, o número de mortos que não para de subir, as revelações de que o governo retardou a compra de vacinas. A alardeada honestidade do governo esbarra em fatos como o fim da Operação Lava-Jato, o esforço para barrar a investigação do patrimônio da família, as suspeitas de corrupção envolvendo o ex-ministro Ricardo Salles, que só agora caiu. Sem investigação, como saber se há ou não corrupção no governo?