Dos ídolos que eu tinha na adolescência, só Elis Regina morreu de overdose, em 1982. Outros, a vida levou por doenças, deixando imensos vazios na música brasileira, que é um dos nossos principais produtos de exportação. Já me emocionei em diferentes cidades mundo afora ouvindo tocar canções do meu país em estações de metrô, bares e restaurantes. E não só Garota de Ipanema, mas outras que fazem parte da minha lista de músicas para ouvir enquanto viver.
Neste sábado (19), Chico Buarque fez 77 anos. É, há mais de 40 anos, o número um da minha lista de preferências na música popular brasileira. Pode não ser o mais afinado, mas o que importa? Ninguém compôs tantas canções inesquecíveis quanto ele, sozinho ou em parceria. Ninguém tem um repertório tão eclético, nem vocabulário tão rico.
Com meus trocados, o ajudei a comprar aquele apartamento em Paris que tanta inveja causa. De nenhum outro artista fui a tantos shows. Tenho quase todos os CDs (e mais aquelas coletâneas temáticas, que dão novos sentidos à obra) e deles não consigo me desfazer, mesmo tendo me rendido à Apple Music, que me permite ouvir quem eu quiser, quando quiser, onde estiver, porque tudo está no telefone, ao alcance de um toque.
No meu panteão de ídolos estão outros que envelheceram lindamente - a começar pelo rei, Roberto Carlos, 80, que me conquistou com Detalhes, música que não canso de ouvir, mas dele gosto de um número limitado de canções. Prefiro Caetano, com sua doçura baiana, cheio de luz às vésperas de completar 79 anos. E Paulinho da Viola, 78, meu filósofo preferido, que canta lindamente e encanta plateias com aquela simpatia que poucos artistas têm.
Das vozes femininas, Gal Costa é a deusa que não canso de escutar. Nos anos 1970, Elis disse que no Brasil só existiam duas cantoras: “Gal e eu”. Elis morreu de overdose, como na música que ficou imortalizada na voz dela, mas Gal seguiu cantando, se reinventando e está aí, com um novo trabalho, aos 75 anos, dividindo o palco virtual com jovens artistas, já que a pandemia inviabilizou os shows. Como Bethânia, que também tem 75 e a gente não cansa de ouvir.
Chico Buarque é, há mais de 40 anos, o número um da minha lista de preferências na música popular brasileira. Pode não ser o mais afinado, mas o que importa? Ninguém compôs tantas canções inesquecíveis quanto ele
Se ainda estivesse viva, Elis seria obrigada a reconhecer que há pelo menos mais uma mulher que formaria a santíssima trindade com ela e Gal: Teresa Cristina. Mas essa é uma guria nascida em 1968, o ano que não terminou.
Antes que alguém atire a primeira pedra, que fique claro: não sou especialista em música. Escrevo com a certeza de que gosto pode até se discutir, mas é preciso entender que cada um tem o seu.