Anunciado nesta sexta-feira (21) para começar já na segunda (24), o programa de avaliação dos estudantes das escolas estaduais é mais do que necessário para saber qual é a situação das crianças e o que a Secretaria da Educação precisa fazer para ajudar as que ficaram para trás. Sem diagnóstico, como montar um programa de recuperação de conteúdos ou do atendimento especial aos que tiveram dificuldades com as aulas remotas?
Batizada de Avaliar é Tri, a prova, que será aplicada do 2º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio, tem por objetivo medir a aprendizagem em Língua Portuguesa e Matemática. É o mínimo que se precisa saber para identificar os gargalos.
Em uma rede do tamanho da do Rio Grande do Sul, seria impossível montar um programa de recuperação sem saber o quanto cada criança ou adolescente aproveitou das aulas remotas, seja porque não se adaptou, seja porque não teve a seu alcance os equipamentos ou internet adequados.
A resistência imediata do Cpers-Sindicato à realização da prova não se justifica. Os professores deveriam ser os maiores interessados no resultado da avaliação, até para poder exigir do governo melhores condições para as aulas remotas. Dizer simplesmente que não dá ou que os professores precisam de mais tempo para aplicar as provas é uma forma cômoda de empurrar para o futuro o que deveria ter sido feito ontem - no caso, no início do ano letivo.
Diz o Cpers que “a educação não pode ser conduzida sob a lógica da cobrança, da coerção e da chantagem, cabendo à categoria todos os deveres e nenhum direito”. Desde quando uma avaliação é coerção ou chantagem? A recomendação ao Cpers para que as equipes diretivas e os professores resistam em conjunto com os conselhos escolares, “exercendo o direito à gestão democrática” deveria se repudiada pelos pais, que têm o direito de saber se os filhos estão aprendendo.
Se não estão, cabe cobrar do Estado que forneça os instrumentos necessários aos professores, mas não há nada de democrático em sonegar às famílias o direito de saber se as crianças precisam de reforço ou se podem seguir adiante porque assimilaram o mínimo necessário para aquela idade ou série.
As crianças das escolas públicas têm direito a uma educação de qualidade. Não é razoável que o governo estadual assista de braços cruzados ao aprofundamento do fosso que separa as escolas públicas das particulares. Que se cobre do Estado o fornecimento de material, equipamentos de proteção e de informática, treinamento e tudo o que for necessário para melhorar a qualidade das aulas remotas, mas sem impedir a avaliação, um instrumento a ser usado a favor de alunos e professores.