Chegou a minha vez. Às 11h52min deste 23 de abril de 2021, recebi a primeira dose da vacina contra a covid-19. Na carteirinha que considero uma espécie de passaporte provisório para uma vida mais ou menos normal, está escrito que devo retornar em 22 de julho para completar o processo de imunização. Fui vacinada com a Oxford/AstraZeneca, lote 213VCD006ZVA, mas batizei-a de Esperança.
A gentil Nathalia Pereira mostrou-me o frasco e a seringa com 0,5ml. Com mãos de fada, aplicou a vacina com tanta delicadeza que mal senti a picada e exibiu a seringa vazia. De um lado do carro, meu marido registrava o momento pelo celular. Do outro, o colega Félix Zucco, repórter fotográfico dos bons. Para que tanta solenidade? Para valorizar a ciência e reafirmar minha fé nas vacinas que todos vimos nascer, cercadas de desconfiança.
Chegou a minha vez de agradecer aos pesquisadores, à Fiocruz, aos voluntários que se submeteram aos testes de eficácia e de segurança, ao SUS - que nesta pandemia se revelou mais importante do que nunca -, aos profissionais de saúde, e a todos os que se envolvem nessa operação gigantesca de imunizar pessoas em todos os cantos do Brasil.
Por ter acompanhado todos os passos de desenvolvimento das vacinas, sempre tive uma enorme expectativa em relação ao dia em que elas estariam disponíveis. No início do ano, imaginava que deveria me dar por satisfeita se recebesse a primeira dose no primeiro semestre. Depois, recalculei a rota e me preparei para maio. Nos últimos dias, tive certeza de que seria em abril.
Achava que seria segunda-feira, mas na quinta (22) veio a confirmação de que a turma de 1960 começaria nesta sexta e que seria a vacina de Oxford. Para mim, tanto fazia a “marca”. Aprendi com a Cristina Bonorino que a melhor vacina é a que está no nosso braço.
Decidi que me vacinaria no drive thru da PUC. Porque é a minha universidade. Foi lá que nasci para a profissão e vivi quatro dos meus verdes anos. Pela primeira vez calcei sapatos em 13 meses. Escolhi a roupa como quem se enfeita para uma festa. Coloquei até perfume - um Chance, que em francês significa sorte. Tenho sorte de estar viva. Sorte de não ter me contaminado. Sorte de ver meus dois filhos curados sem precisar de hospital. Sorte de continuar trabalhando. Sorte de poder contribuir com a doação de alimentos. Sorte de estar entre os vacinados.
Quero que a Esperança chegue aos braços de todos os que me leem. E que em breve esse pesadelo que hoje nos mantém distantes dos nossos afetos seja História, como foi a gripe espanhola, há um século.
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