Em uma ação para marcar o Dia Internacional da Mulher, a editora Ana Giacomelli me pediu para gravar um vídeo de 30 segundos sobre uma das colegas colunistas de GZH que me inspira. E perguntou se eu me sentiria à vontade para falar de Marta Sfredo. Quase respondi que se tratava de uma tarefa impossível: o que eu tenho a dizer sobre a Marta não cabe em 30 segundos. Haja poder de síntese!
Montei o tripé, encaixei o celular e comecei a tentar. Meio minuto para sintetizar uma mulher que me inspira por tantas coisas há mais de 30 anos? Gastei quase toda a memória disponível do celular, sem sucesso. Apaguei tudo e me conformei com a ideia de que faria um vídeo imperfeito, com o que coubesse em 30 segundos. Gravei, enviei e continuo até agora com a sensação de que ficou incompleto.
Colunista de Economia, Marta tem uma impressionante capacidade de trabalho e aquela curiosidade permanente que move os grandes jornalistas. Faz perguntas precisas e não se contenta com respostas vagas. Não sossega enquanto não esclarece todas as dúvidas, porque sabe que para escrever com clareza é preciso dominar o assunto, mesmo que da conversa resulte uma nota de cinco linhas. Escreve com elegância e clareza sobre assuntos áridos da economia, porque lê _ e lê muito _ desde sempre. Foi assim quando passou pela política e, antes, como repórter de esporte amador, no início da carreira. Gosta tanto de cinema que tem na memória privilegiada um catálogo de filmes que casam com os temas econômicos que aborda.
Abro aqui um parêntese para contar que, quando fui convidada para ser editora de Política em Zero Hora, o diretor de Redação me deu liberdade para montar a equipe com a qual gostaria de trabalhar. Mantive a maioria e trouxe três do Correio do Povo, de onde eu vinha: Marta, Dione Kuhn e Luciano Peres. As circunstâncias acabaram levando Marta para a Economia e ali vi nascer uma especialista em temas com os quais não tenho intimidade _ do mercado de energia ao bitcoin. Anos depois, vi nascer uma entrevistadora carismática no programa Respostas Capitais, uma videodocumentarista capaz de sintetizar em texto e imagem o funcionamento de uma indústria, uma intérprete dos movimentos nem sempre compreensíveis do mercado financeiro, usando seu conhecimento de política para fazer conexões.
Já gastei mais linhas do que deveria e ainda não falei do mais importante: a mulher Marta Sfredo, essa pessoa íntegra e generosa que escuta, estende a mão, oferece conforto. Conversar com ela sobre cinema, literatura e viagens é das coisas que mais tenho saudade nesta pandemia que nos separou dos colegas há mais de um ano. Em 12 meses, só nos vimos uma vez, por não mais de cinco minutos. Foi no aniversário dela, em 11 de novembro, quando saí do isolamento para levar uma flor. Poderia ter mandado por um entregador, mas, mesmo não podendo abraçá-la, parei o carro na porta do prédio, desci (de máscara), entreguei o vaso, simulei um abraço a dois metros de distância e combinamos de nos ver com frequência, fora do trabalho, quando tudo isso passar.