Durante a semana, terno e gravata, discursos e articulações políticas. No fim de semana, o deputado Gabriel Souza, 37 anos, veste o jaleco de médico veterinário e atende pequenos animais em sua clínica em Tramandaí, que é também pet shop, com farmácia e serviços de banho e tosa.
A partir desta quarta-feira (3), Gabriel assume a presidência da Assembleia Legislativa, cumprindo o rodízio que garante ao MDB o comando do Legislativo em 2021.
Quem cuida do negócio, decorado como se fosse uma loja de bebês, é a esposa do deputado, a professora Talise, que ele conheceu fazendo política, no município de Independência. Os dois estão juntos desde 2005. Do casamento nasceu Dora, três anos, única filha do casal.
Militante da causa animal, Gabriel costuma dar nome de políticos a seus cães de estimação. A mascote da família é Anita, homenagem a Anita Garibaldi, já que foi adotada em Santa Catarina. Antes de Anita, o deputado teve Getúlio (Vargas) e Ulysses (Guimarães).
Formado em Medicina Veterinária pela Ulbra, Gabriel despertou para política ainda menino, no Grêmio Estudantil Marquês do Herval, do colégio cenecista em que o jovem nascido em Tramandaí cursou o Ensino Médio. Em seguida, tornou-se presidente da União dos Estudantes de Osório e da União Gaúcha de Estudantes. Na família, só ele enveredou pelo caminho da política: o pai é contador, a mãe, técnica em contabilidade e a irmã, nutricionista.
Gabriel tinha 15 anos quando se filiou à Juventude do MDB, movimento do qual se tornaria, anos depois, presidente municipal, estadual e nacional. No dia em que completou 16 anos, acordou, tomou café e desceu as escadas e foi ao Cartório Eleitoral, no térreo do edifício em que morava, fazer o título de eleitor. Com o documento em mãos, filiou-se ao MDB, impressionado com as ideias de Ulysses Guimarães.
Na Ulbra, o universitário Gabriel passou a fazer política no Centro Acadêmico da Medicina Veterinária, mas seu foco era a Juventude do MDB. Sua desenvoltura chamou a atenção de dois caciques do partido: o então ministro dos Transportes Eliseu Padilha e o hoje presidente estadual do MDB, Alceu Moreira, ex-prefeito de Osório.
Com olho clínico para identificar talentos, Padilha convidou Gabriel para ser seu assessor no escritório em Porto Alegre quando se elegeu deputado federal. Estimulado pelo mentor, o jovem correu o Estado fundando núcleos da Juventude, andando de ônibus ou de carona, dormindo de favor na casa de companheiros de partido e tendo de conciliar a faculdade com a política.
Afastado do dia a dia da política, Padilha é só elogios ao jovem que agora assume a presidência da Assembleia:
— Para mim não é nenhuma surpresa a trajetória de Gabriel. Desde muito jovem, ele é um cara que estuda e estuda muito. Nunca fala de um assunto sem ter se apropriado dele.
Gabriel confirma a obsessão por estudar:
— Todo mundo percebe quando alguém fala do que não conhece, seja na tribuna ou numa entrevista. Por isso, sempre estudo os assuntos antes de falar.
Foi por querer saber mais que o deputado passou os últimos dois anos dividido entre o mandato e o mestrado em Direito e Cidadania na Unicuritiba (PR). No primeiro ano, ia à capital paranaense de 15 em 15 dias para aulas presenciais aos fins de semana. Com a pandemia, passou a ter aulas remotas e, na semana passada, teve a dissertação aprovada com nota 10.
Até aqui, o maior desafio da carreira do jovem deputado foi a liderança do governo de José Ivo Sartori, com uma oposição aguerrida, que tinha 11 deputados do PT e dois craques da palavra, Manuela D’Ávila (PCdoB) e Pedro Ruas (Psol), entre os maiores críticos da gestão. Mesmo com os opositores, Gabriel construiu relações cordiais:
— Eu e o Pedro Ruas tivemos embates memoráveis, mas nos tornamos amigos. Divergimos, mas nos respeitamos.
Padilha cita outra característica que considera chave na carreira do pupilo:
— Gabriel é um homem de palavra. Se assume um compromisso, pode ter certeza de que irá cumprir. Com esse perfil, tenho certeza de que ele vai longe. Pode chegar a qualquer lugar.
No segundo mandato de deputado estadual, Gabriel diz que seu futuro está atrelado ao de Alceu Moreira:
— Se Alceu for candidato a governador ou senador, não tenho o que fazer a não ser concorrer a deputado federal. Somos amigos e temos a mesma base eleitoral. Se Alceu for candidato à reeleição, eu não posso concorrer a federal.