A equipe da Secretaria de Regularização Fundiária e Habitação que passou esta quinta-feira (14) em mutirão para acelerar a transferência dos moradores da Vila Nazaré — que precisam deixar a área para a ampliação do Aeroporto Internacional Salgado Filho — ouviu histórias que explicam a dificuldade para a remoção das últimas 153 famílias. Como o repórter Caue Fonseca já havia relatado, há moradores que não querem ir para o Loteamento Irmãos Maristas, na Zona Norte, por medo de confronto com desafetos. Aos prantos, uma mulher contou ao secretário André Machado que deseja sair da Nazaré e sabe que precisa desocupar a casa, mas tem medo de ser morta pelos parentes, porque uma parte da família a odeia.
Há casos em que a pessoa concorda em sair, mas não tem documentos para se habilitar na Caixa Econômica Federal e assinar o contrato. No mutirão, em um contêiner instalado dentro da vila, já foram encaminhados os documentos de identificação dos moradores que, para efeitos legais, não existem.
A todos, o secretário e os funcionários do Demhab garantiram que será oferecida uma alternativa em outro bairro. Os acordos devem ser fechados na Justiça, onde tramita uma ação movida pela Fraport, empresa que administra o aeroporto.
Os funcionários da secretaria documentaram a situação atual da Nazaré em mais de 300 fotos. O cenário é de uma cidade que enfrentou um terremoto ou bombardeio. As famílias remanescentes vivem em meio ao lixo e ao entulho das casas demolidas, um contraste absoluto com os imóveis do loteamento, para onde já se mudaram 754 famílias.
Pela manhã, Machado e sua equipe visitaram o condomínio. O secretário se impressionou com a qualidade das casas e dos apartamentos, todos de dois dormitórios:
— O piso é igual ao do apartamento em que eu moro. O banheiro é até maior.
O secretário elogiou os governos anteriores, que se envolveram na construção do condomínio — o contrato foi assinado quando José Fogaça era prefeito —, mas reconheceu que os moradores têm razão quando reclamam da falta de transporte, de creche e de posto de saúde.
A Fraport deverá construir a creche e o posto de saúde. O problema da falta de transporte coletivo deve ser resolvido em duas semanas, com a readequação de uma linha de ônibus, conforme promessa do secretário de Mobilidade, Luiz Fernando Záchia.