Se um dia eu fosse escrever as memórias desta já longa vida profissional, começaria dizendo que um dia apertei a mão de um sonhador, conversamos sobre sua paixão, passeei de aeromóvel com o ele, na curtíssima linha que liga o aeroporto à estação do Trensurb, despedimo-nos com um longo abraço e nunca mais nos encontramos pessoalmente, mas minha admiração por ele só cresceu. Oskar Coester morreu na terça-feira (17), aos 82 anos, sem ter o reconhecimento devido por seu invento.
Que a História faça justiça ao inventor que desde menino, em Pelotas, foi uma espécie de Professor Pardal das histórias em quadrinhos. Teria sido outro o destino de suas criações, se vivesse em um país que valoriza a inovação, a criatividade, a ousadia?
Ouvi falar de Coester pela primeira vez quanto ainda estava na faculdade. Em 1982, ano em que me tornei jornalista, foi inaugurado o projeto piloto do aeromóvel, do Gasômetro até o Centro Administrativo. Dizia-se em tom de chacota que ia do nada a lugar nenhum, mas Coester não se abalava.
Por muitos anos convidou jornalistas para andar naquele trem aéreo silencioso, movido a vento, mas quase nenhum prefeito de Porto Alegre ou governador apostou no seu invento. Apenas o ex-prefeito Guilherme Socias Villela deu crédito à ideia de Coester e autorizou a criação da primeira linha. O veto ao projeto, conforme Villela, partiu do então ministro dos Transportes, Cloraldino Severo.
Dizia-se, como se diz da urna eletrônica, que se fosse bom estaria transportando passageiros nos Estados Unidos, na Inglaterra ou na França, mas só fazia sucesso como linha turística em um parque de Jacarta, na Indonésia. Ninguém lembrava que Londres, Paris e Nova York têm metrôs eficientes e um sistema de transporte coletivo bem diferente do nosso.
É fato que a linha elevada não é, do ponto de vista estético, agradável aos olhos. Como não são os viadutos, a sujeira do Dilúvio e as filas de ônibus soltando fumaça no Centro Histórico. Agora mesmo, em plena campanha eleitoral, nenhum dos candidatos que disputa o segundo turno em Porto Alegre apresentou solução minimamente inovadora para o transporte coletivo.
Em 2019, em uma cadeira de rodas, Coester assistiu sem perder a esperança a desmontagem do que restara do aeromóvel da linha piloto. Ficou a estrutura de concreto, como um monumento ao vazio de inovação desta cidade tão apegada ao passado. O colega Paulo Germano registrou em sua coluna em GZH a frase de Coester no dia da desmontagem:
— Se não sair agora, paciência. É o sistema de transporte do futuro, mas ainda vai levar tempo.
Restou a Coester ver o aeromóvel do aeroporto funcionando, não sem tropeços. Porque o sonho de assistir à inauguração de uma linha de transporte massivo de passageiros, em Canoas, se esvaíra em 2017. Mesmo com financiamento garantido, licitação vencida por uma empresa chinesa e trens em construção pela Marcopolo, o prefeito Luiz Carlos Busato suspendeu tudo, alegando que o projeto de seu antecessor, Jairo Jorge, era inadequado para Canoas. Os ônibus venceram mais uma.