Se há um mistério no governo de Jair Bolsonaro é o motivo que faz o presidente manter Ricardo Salles no Ministério do Meio Ambiente. Não bastasse a inépcia na gestão das crises na sua área — pela ótica de quem defende a Amazônia, o Pantanal, a Mata Atlântica e outros patrimônios ambientais do Brasil —, Salles se comporta como o eterno adolescente que “intica” com os coleguinhas por qualquer coisa. Ou, para usar outro dito popular comum no Rio Grande do Sul, é do tipo que “dá o tapa e esconde a mão”.
O mais recente episódio de infantilidade explícita de Salles é o tweet em que chamou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) de “Nhonho”, personagem do seriado mexicano Chaves. Não se trata de uma ofensa à honra, mas de brincadeira sem graça para um marmanjo com status de ministro de Estado.
O apelido “Nhonho”, é usado regularmente por bolsonaristas que detestam o presidente da Câmara, caso do vereador Carlos Bolsonaro, outro adulto com síndrome de Peter Pan.
Salles (ou alguém que tem sua senha) usou o apelido em um tweet de resposta ao comentário de Maia, dizendo que ele, ministro, “não contente em destruir o meio ambiente do Brasil, agora resolveu destruir o próprio governo”. Faísca atrasada, fez o comentário quatro dias depois do post de Maia, publicado sábado passado.
“Fui avisado há pouco que alguém se utilizou indevidamente da minha conta no Twitter para publicar comentário junto a conta do Pres.da Câmara dos Deputados, com quem, apesar de diferenças de opinião sempre mantive relação cordial”, escreveu em seu perfil oficial (os erros de português foram reproduzidos do post).
A conta foi apagada logo depois. Questionado, Salles disse que fez o “procedimento de segurança”.
O ministro tem revelado uma queda por apelidos jocosos para seus desafetos. O comentário de Maia se referia a outra publicação de Salles no Twitter, na qual chamou o general Luiz Eduardo Ramos, ministro-chefe da Secretaria de Governo, de “Maria Fofoca”.
O pomo da discórdia foi uma notícia do jornal O Globo, segundo a qual Salles estica a corda com a ala militar do governo ao reclamar da falta de recursos para o Ibama. Salles desconfiou que Ramos era a fonte da notícia e escreveu: “Ministro Luiz Ramos, não estiquei a corda com ninguém. Tenho enorme respeito e apreço pela instituição militar. Atuo da forma que entendo correto. Chega dessa postura de #mariafofoca”. Depois, como um colegial, pediu desculpas ao colega.
Por que Bolsonaro mantém um ministro com esse perfil? A resposta pode estar na famosa reunião ministerial que precedeu a saída de Sergio Moro do governo. Quem não lembra do olhar assustado do então ministro da Saúde, Nelson Teich, ouvindo Salles dizer que seria importante aproveitar que a imprensa estava ocupada com o coronavírus para “passar a boiada” na legislação ambiental? Teich pediria demissão pouco depois.
Há uma evidente afinidade ideológica entre Salles e Bolsonaro. Os dois partilham das mesmas ideias em relação aos incêndios na Amazônia e no Pantanal, não gostam de ONGs, culpam índios pelas queimadas e atribuem as críticas externas a uma conspiração internacional para roubar as riquezas do Brasil.
Com essas ideias, Salles é o queridinho dos radicais que gravitam em torno do Planalto e que ficaram órfãos com a transferência de Abraham Weintraub para Washington. Se demitir Salles, com quem, além do chanceler Ernesto Araújo e da ministra Damares Alves, o presidente conversará sobre as teorias conspiratórias para as quais ministros como Paulo Guedes e Tereza Cristina não têm paciência?
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