As entrevistas da presidente do Cpers, Helenir Schürer, e do secretário da Educação, Faisal Karam, no Gaúcha Atualidade, são reveladoras da dificuldade que o Estado terá para retomar as aulas presenciais no dia 20 de outubro. O que o Cpers exige para a volta às aulas enquanto não houver vacina é inviável: testes regulares do tipo RT-PCR para todos os professores e alunos, mesmo que não tenham qualquer sintoma de covid-19.
O secretário da Educação diz que não há como atender a exigência, não só pelo custo dos testes, mas pela logística de coleta e processamento do exame. Como o resultado do PCR só detecta o vírus ativo e o resultado demora a sair, a medida poderia se revelar inócua.
O Cpers fará uma assembleia no próximo dia 8 para decidir o que os professores farão diante da decisão do governo de reabrir as escolas e retomar as aulas presenciais para os alunos cujos famílias autorizarem o retorno. Faisal diz que há professores pedindo para voltar às escolas, independentemente da orientação do sindicato, seja pelo vínculo com os alunos, seja porque não se adaptaram às aulas virtuais.
Como acompanha os acessos de professores e alunos ao aplicativo de aulas remotas, a Secretaria da Educação constatou que o tempo de conexão vem caindo e que parte dos estudantes passa vários dias sem assistir uma aula sequer. Outros simplesmente abandonaram a escola, motivo pelo qual o governo vai insistir no calendário de retorno escalonado.
De acordo com a professora Helenir, pesquisas feitas pelo Cpers indicam que 80% dos pais não estão dispostos a mandar os filhos para a escola. O governo contesta esse índice e reafirma que precisa reabrir as escolas para atender as famílias que quiserem a volta das aulas presenciais.
Como as instituições particulares estão voltando antes nos municípios que estavam há mais de duas semanas em bandeira laranja no modelo de distanciamento controlado, a expectativa do Piratini é de que sirvam de inspiração para os pais de alunos de escola pública. Em Santa Cruz, por exemplo, o diretor do tradicional Colégio Mauá, Nestor Raschen, comemora os bons resultados do retorno às aulas na Educação Infantil:
— Fechamos 17 dias com aulas presenciais na Educação Infantil. Nenhum caso de covid entre alunos ou professores. Tudo andando muito bem. As crianças estão felizes. Os professores animados. A vida voltou à escola em sua plenitude.
Raschen contou à coluna que 90% dos 400 alunos da Educação Infantil retornaram à escola, com aulas todos os dias, em um turno. As turmas foram divididas para evitar aglomerações. O diretor diz que o retorno dos pais é gratificante:
_ Uma mãe me ligou para dizer que a filha resistia em usar máscara para sair à rua, mas, para poder voltar para a escola aceitou e agora é uma defensora do uso da máscara. Outra contou que a filha de três anos voltou para escola e pediu à mãe que olhasse nos olhos dela para ver como estavam brilhantes.
No Ensino Médio, 80% retornaram. Agora, são os pais do Ensino Fundamental que pedem a volta às aulas, mas a prefeitura só autorizou o retorno a partir de 13 de novembro.
Com 150 anos de existência, o Colégio Mauá é uma escola privada, mas seu diretor quer inspirar as instituições públicas:
_ Me dói ouvir esse slogan "escolas fechadas, vidas preservadas". A vida palpita na escola. Esse slogan fez sentido no início da pandemia, quando não se sabia se a rede hospitalar conseguiria dar conta da demanda. Agora não faz mais. Temos de tomar todos os cuidados, respeitar os protocolos, sem privar as crianças do conhecimento e do convívio.