Jornalista formada pela PUCRS, colunista de Política de ZH e apresentadora do programa Gaúcha Atualidade, na Rádio Gaúcha.

Crônica de domingo

Depois do outono da desesperança, o inverno da incerteza

Em quase cem dias, 50 mil mortos e 1 milhão de contaminados e a dúvida sobre quando sairemos do cativeiro coletivo

Rosane de Oliveira

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Bem no dia em que terminou a estação dos tons amarelados, o Brasil bateu duas marcas que há 90 dias eram previsões consideradas catastrofistas: 50 mil mortes pelo coronavírus e mais de um milhão de contaminados. Vivemos um outono de medo e desesperança, com as previsões do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta martelando na cabeça e tentando nos adaptar a uma vida de ausências, poucos abraços e reuniões virtuais. O que esperar do inverno que chegou numa tarde ensolarada que mais parecia verão?

A expressão "vai passar", repetida exaustivamente nestes quase cem dias de cativeiro coletivo, já começou a virar realidade em outros países. Aqui mesmo, chegamos a experimentar uma espécie de liberdade condicional, mas muita gente não soube usar e voltamos à situação do final de abril em matéria de restrições. Até quando neste abre e fecha, aperta e afrouxa, vendo o tempo escoar pela janela? Talvez somente quando setembro chegar e com ele a primavera da esperança.

Nesses quase cem dias vimos a curva das mortes ir de 1 no dia 17 de março a 50 mil em 20 de junho. Não é apenas uma estatística: são 50 mil vidas perdidas, 50 mil famílias enlutadas, 50 mil sonhos interrompidos, porque até quem tem doenças crônicas ou já viveu mais do que a média não perde a esperança. Entre os mortos também há jovens de quem se diria até o início deste ano que tinham toda a vida pela frente.

Neste domingo ensolarado, há 496.869 brasileiros em acompanhamento, milhares deles em leitos de UTI, respirando com a ajuda de aparelhos. Há ricos e pobres internados há mais de um mês, lutando contra esse vírus que abalou o planeta, destruiu empregos, quebrou economias. 

Neste primeiro domingo de inverno, milhares  de profissionais de saúde estarão de plantão salvando vidas. É em respeito a eles e a nós mesmos que teremos de nos resignar a pelo menos mais 15 dias de restrições severas, porque a situação se complicou e há risco de colapso nos hospitais de algumas regiões do Rio Grande do Sul, que estão sob bandeira vermelha e onde vivem mais de 5 milhões de almas. 


 

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