A ideia de que o pior da pandemia já tinha passado, traduzida em aglomerações e no abandono de medidas de higiene e distanciamento social após a reabertura do comércio, vai custar caro aos gaúchos. Em Porto Alegre, a conta já chegou com o aperto anunciado pelo prefeito Nelson Marchezan no início da noite desta sexta-feira (12), que inclui novo fechamento dos shopping centers a partir de segunda-feira (15).
No Estado, a conta virá em forma de bandeira vermelha, neste sábado ou nos próximos dias, numa tentativa de frear a demanda por leitos de UTI e evitar colapso no sistema de saúde. Em entrevista ao Gaúcha Atualidade, o governador Eduardo Leite confirmou o que o monitoramento dos indicadores do modelo de distanciamento controlado vinha indicando: a previsão é de bandeira vermelha em regiões onde a demanda por leitos de UTI disparou e chegou ao nível crítico.
Marchezan e Leite trabalham com a mesma lógica, a de que é preciso prestar atenção nas projeções. Pelo comportamento do vírus, os efeitos das medidas adotadas hoje aparecem nos hospitais de 10 a 14 dias depois. A chave para as decisões é “velocidade de crescimento”, mais do que o número absoluto de leitos ocupados no momento.
Olhando o quadro apenas pelos leitos ocupados, a situação em Porto Alegre ainda não chegou ao ponto crítico. Está em 78,59%. O que preocupa é a curva de crescimento. No sábado passado, havia 46 leitos ocupados por pacientes com covid-19. Uma semana depois, são 66 (na quinta-feira chegou a 69). Esse aumento ocorreu duas semanas após a flexibilização.
— Se a velocidade da demanda dos últimos 12 dias se mantiver, no final de junho todos os 174 leitos destinados a pacientes covid estarão ocupados — disse Marchezan, para justificar a volta das medidas restritivas à circulação de pessoas, que valerão a partir de segunda-feira.
Embora os decretos ainda não tenham sido finalizados, é possível dizer que Porto Alegre retroage à situação do início de maio, quando só o pequeno comércio, com faturamento abaixo de R$ 360 mil recebeu autorização para funcionar. A diferença é que bares e restaurantes seguirão abertos — por enquanto — mas não poderão funcionar além das 23h.
Aos supermercados, que nunca deixaram de funcionar e tiveram aumento da demanda, Marchezan apelou para que ampliem o horário de funcionamento, para diluir o número de clientes ao longo do dia.
O prefeito disse esperar que Porto Alegre não precise adotar a medida extrema do fechamento total:
— O lockdown só ocorre quando há implosão total do sistema de saúde. Estamos adotando essas medidas para não chegar à situação de colapso.
Marchezan também apelou aos prefeitos da Região Metropolitana para que repensem as restrições, já que mais da metade dos pacientes da rede hospital de Porto Alegre vem de outros municípios.