No breve discurso que fez ao empossar o novo ministro da Saúde, Nelson Teich, o presidente Jair Bolsonaro o elogiou pela coragem de aceitar o cargo. Oncologista com formação complementar na área econômica, Teich está trocando temporariamente uma carreira bem-sucedida no setor privado pela cadeira mais espinhosa da República, em um momento absolutamente crítico.
No dia da posse, o Brasil ultrapassou a marca das 2 mil mortes pela covid-19. Mais do que o número absoluto, que pode parecer baixo perto dos dados diários dos Estados Unidos, com 4,5 mil óbitos em 24 horas, o que preocupa as autoridades responsáveis pela área da saúde é o gráfico de evolução dos casos, combinado com a ameaça de colapso do sistema hospitalar em alguns Estados.
O número de mortos dobrou em uma semana — e esse é um dos dados mais relevantes para quem precisa formular estratégias de enfrentamento ao coronavírus. Faz exatamente um mês que o Brasil registrou a primeira morte. Saiu de uma para 2.141 em 30 dias.
Para além da frieza dos números, a preocupação é com a perspectiva de colapso no sistema de saúde em várias capitais nos próximos dias. No Amazonas, a situação saiu do controle, com cenas de mortos em enfermarias, ao lado de pacientes em tratamento. No Ceará, a previsão é colapso iminente, com a perspectiva de ocorrerem 250 mortes por dia. Em São Paulo, quatro hospitais públicos já não têm mais vagas em UTIs. No Rio, também já faltam vagas e, mesmo com a falta de testes, o número de casos não para de subir.
Teich assume com o desafio de conciliar sua visão científica com os palpites do presidente, que não aceitava a linha de Mandetta que “como médico, era voltada quase exclusivamente para a vida” e quer abrandar as restrições para preservar empregos. O novo ministro precisa, também, administrar a relação com os governadores, criticados mais uma vez por Bolsonaro por adotarem medidas restritivas.
As imagens de aglomeração na despedida do ministro Luiz Henrique Mandetta e da chegada de Nelson Teich ao comando do Ministério da Saúde atentam contra tudo o que as autoridades sanitárias recomendam.
Sem máscara, os funcionários e convidados conversaram como se estivessem imunizados ou não soubessem como o vírus é transmitido. Houve abraços, apertos de mão, cochichos, fotos e uma proximidade que contrasta com o isolamento social exigido dos brasileiros em geral.