O futuro do governo de Jair Bolsonaro vai depender, em boa parte, da forma como conduzir a sucessão de Sergio Moro no Ministério da Justiça. Se usar o mesmo critério escolhido para indicar o delegado Alexandre Ramagem para a direção-geral da Polícia Federal, o da amizade com a família, a bola de neve da desconfiança não vai parar de crescer.
Pela forma como respondeu ao ser questionado, em rede social, sobre a ligação de Ramagem com a família, tem-se uma ideia de como Bolsonaro trata as questões de Estado.
A mulher escreveu: “Alexandre Ramagem é amigo dos filhos do presidente. Inclusive, foi indicado por eles".
Bolsonaro respondeu: “E daí? Antes de conhecer os meus filhos eu conheci o Ramagem. Por isso deve ser vetado? Devo escolher alguém amigo de quem?".
A resposta óbvia deveria ser que amizade não é critério para a escolha de ministro ou diretor de órgão público. Que no caso do titular da Justiça, deve ser um jurista que entenda de leis, respeite as instituições e não use a Polícia Federal para proteger a família ou os amigos do presidente. Mas, se Moro caiu porque não aceitou interferir em uma investigação sobre a qual nem mesmo tem poder, porque é da alçada do Supremo Tribunal Federal, como esperar que o presidente escolha alguém acima de qualquer suspeita?
Na confusa manifestação que fez na sexta-feira (24), após o pedido de demissão de Moro, Bolsonaro deixou claro que seu descontentamento com a Polícia Federal conversa com sua obsessão em provar que Adélio Bispo não agiu sozinho quando o esfaqueou em Juiz de Fora. Ele não se conforma com as conclusões da PF, de que não houve mandante, nem aceita que os delegados estejam preocupados em descobrir quem mandou matar a vereadora Marielle Franco (PSOL) .
- A Polícia Federal de Moro mais se preocupou com a Marielle do que com o seu chefe supremo. Será que tenho de implorar a Sergio Moro que apure quem mandou matar Jair Bolsonaro?
O problema é que três investigações em andamento podem encrencar os filhos do presidente: Flávio, o senador, no esquema da rachadinha na Assembleia do Rio e suas conexões com a milícia; Carlos, o vereador, na máquina de distribuição de fake news e Eduardo, o deputado federal, na organização de protestos contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, que pediam intervenção militar e que tiveram a presença do presidente.