Sem medo da patrulha que não admite discutir educação sexual nas escolas, ou de quem diz que esse papel é exclusivo dos pais, o governo do Estado lançará, em parceria com a Unesco, um projeto que vai dar muito o que falar. O nome é longo: “Tecnologias sociais inovadoras de educação e saúde para a prevenção das ISTs/HIV aids no Estado do Rio Grande do Sul”. O espírito pode ser resumido na conhecida expressão “prevenir para não precisar remediar”.
A representante da Unesco no Brasil, Marlova Noleto, e o governador Eduardo Leite assinam o acordo na segunda-feira (7), às 10h30min, no Piratini.
Na base do projeto está a constatação de que o Estado ostenta índices preocupantes de transmissão do HIV, superiores à média nacional. E que a prevenção é a melhor forma de proteger os jovens das infecções sexualmente transmissíveis.
— Existe uma tendência mundial de manutenção ou crescimento do número de casos de aids entre jovens na faixa etária de 15 a aos 24 anos. Os números indicam que a transmissão ocorre quando os adolescentes ainda estão escola. Por isso, temos de trabalhar esse tema com a juventude — diz a médica Letícia Ikeda, que trabalha no Programa Estadual de Controle das IST-aids na Secretaria Estadual da Saúde.
O desafio da equipe da Saúde e dos consultores da Unesco foi encontrar o tom e a forma de envolver os jovens numa questão de vida ou morte, mas que passa à margem das preocupações.
— Os jovens se acham invulneráveis. Não morrem, não adoecem, não dá nada. A forma de abordar a prevenção, em geral restrita às aulas de biologia, com palestras e folders, já mostrou que não funciona. Por isso, temos de tratar do tema de forma transversal e com uso intensivos das redes sociais pelas quais eles se comunicam — constata Letícia.
A partir de uma experiência piloto em Viamão, o projeto terá como carro-chefe uma exposição itinerante, com cinco contêineres, em que serão mostradas as conexões entre as doenças sexualmente transmissíveis, o consumo de álcool e drogas, o bullying e a violência de gênero. Em cada estação, os visitantes serão orientados por monitores e atores, de forma criativa e em linguagem acessível, para que ao final tenham clareza de como se proteger.
A exposição começará pelos municípios prioritários do programa RS Seguro, por serem os mais violentos, mas o roteiro ainda não está definido. Antes, as equipes das secretarias da Saúde e da Educação farão um trabalho de preparação das escolas, para que o trabalho não se esgote com a exposição e com os esquetes de teatro em que atores protagonizam cenas que mostram bullying ou violência de gênero, por exemplo, e interrompem a performance para os alunos discutirem os problemas.
A parceria com a Unesco é de quatro anos. A instituição vai colocar à disposição do Estado consultores especializados em educação e prevenção ao HIV e colaborar nas estratégias de comunicação para incentivar comportamentos mais seguros com relação à sexualidade.
Aliás
Os estudos das secretarias da Saúde e da Segurança mostram que há coincidência entre violência e doenças sexualmente transmissíveis: as regiões mais violentas também são aquelas onde se registra maior incidência de aids.