Tenho certa resistência às retrospectivas de dezembro porque não preciso ser lembrada do que ocorreu nos últimos 12 meses, mas reconheço a importância desses resumos do ano para a História. E 2019 está sendo um ano do qual me despedirei com a certeza de que poucas coisas deixarão saudade.
Foi (e já falo no passado, com três dias de antecedência), o ano da intolerância. Retrocedemos várias casas em matéria de civilização. Vimos famílias se dividirem por incapacidade de um respeitar o pensamento do outro. Testemunhamos ataques sórdidos aos defensores do ambiente, à arte (e aos artistas), à cultura e aos direitos humanos. Voltamos no tempo em matéria de respeito aos diferentes.
Para os jornalistas, foi um ano de guerra às notícias falsas, que se multiplicam como baratas nas redes sociais. Tivemos de mostrar até a pessoas próximas que aquele texto mil vezes compartilhado nos grupos de WhatsApp era falso. Fomos obrigados a gastar um tempo precioso desmentindo fake news. Vimos colegas sendo atacados de forma torpe por suas opiniões e assistimos a incontáveis ameaças à liberdade de expressão. Chocados, ouvimos autoridades defendendo a volta de instrumentos como o AI-5, ícone de um dos períodos mais terríveis da história do Brasil.
Ainda que tenhamos celebrado a queda global no número de homicídios, noticiamos com pesar e sensação de impotência a morte de crianças por balas perdidas, a execução de inocentes por quem deveria protegê-los, o assassinato de mulheres por homens com quem dividiram o teto e os projetos de vida. De tudo o que 2019 teve de ruim, o altíssimo número de feminicídios praticados por covardes de arma na mão está entre os piores pesadelos.
Que 2020 traga mais serenidade aos que propagam a violência como método. Que traga empregos para dar dignidade às famílias que dependem de esmolas do governo ou das pessoas caridosas. E que nos dê, principalmente, saúde física e mental para resistir a qualquer tentativa de retrocesso em matéria de liberdades democráticas.