Perdi a conta de quantas árvores, arbustos e sementes plantei e vi crescer nestes 59 anos de vida. Com essa legitimidade, em 2013 defendi com muita convicção a derrubada de árvores para permitir a ampliação do Hospital de Clínicas. Briguei com ambientalistas, talvez tenha perdido ouvintes e leitores, mas hoje posso dizer que valeu a pena: os dois prédios anexos ao hospital estão prontos e a partir de janeiro devem começar a receber pacientes. Passo diariamente na Rua Ramiro Barcelos, agora sem os tapumes, e me emociono ao constatar que ali se produziu um milagre: a obra (pública) foi concluída no prazo.
Foi no dia 9 de outubro de 2013 que nasceu meu compromisso com a ampliação do Clínicas, um hospital de referência que estava com sua capacidade de atendimento esgotado. Daniel Scola estava começando como apresentador do Gaúcha Atualidade e sugeriu fazermos um programa do Estúdio Móvel, em frente ao hospital. Babiana Mugnol, nossa produtora, empolgou-se.
Chegamos cedo e assistimos à romaria de ambulâncias trazendo pacientes do Interior. Foi ao entrar na emergência superlotada que me convenci da necessidade de derrubar tantas árvores quantas fossem necessárias para ver a obra prometida pela então presidente Dilma Rousseff sair do papel. No espaço previsto para 49 leitos amontoavam-se 86 pacientes. Médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem se esgueiravam entre as camas e macas para atender, com um carinho que me comoveu, gente de todas as idades e com diferentes patologias.
Na van transformada em estúdio, entrevistamos a vice-presidente Nadine Clausell, que falou das dificuldades e detalhou o projeto que permitiria não só a ampliação da Emergência, mas também da Unidade de Terapia Intensiva, do serviço de hemodiálise e da área de recuperação pós-cirúrgica. Na prancheta, nascia um novo hospital. Scola e eu abraçamos o projeto, defendemos a derrubada das árvores (com a devida compensação ambiental) e acompanhamos a evolução da obra, tijolo por tijolo.
Em seis anos, meus filhos se formaram na faculdade, Scola teve duas filhas, Babiana, que agora coordena a Gaúcha Serra, está prestes a dar à luz sua primogênita, Nadine virou presidente e recebeu das construtoras as chaves dos prédios que vimos nascer. No meio da semana ela veio ao estúdio participar do Gaúcha Atualidade e falar de como será a ocupação dos novos espaços. Contou que, além de ter sido executada no prazo, a obra custou exatamente o que estava previsto no contrato original. Nenhum aditivo foi assinado.
Durante a entrevista, os ouvintes mandaram dezenas de mensagens pelo WhatsApp, relatando histórias de bom atendimento no Clínicas. Uma delas me tocou particularmente. Era de Raphael e dizia assim: "Meu filho ficou oito meses no Clínicas. Perdemos ele, mas somos eternamente gratos por tudo o que fizeram por ele". Por conhecer muito bem o trabalho na oncologia infantil, pensei nas crianças que venceram o câncer e nas tantas outras que poderão se curar nas próximas décadas e tive mais certeza do que nunca de que tudo valeu a pena.
Se não ficamos com a sensação de dever cumprido é porque sabemos que ainda será preciso lutar por equipamentos e pela contratação dos profissionais que darão sentido à ampliação. Por ser um hospital escola, o Clínicas depende de autorização do Ministério da Educação para abrir concurso.
Graças à gentileza da assessora Elisa Ferraretto, revimos as fotos daquela manhã de outubro de 2013 e ouvimos o trecho inicial do programa, no qual eu conto que conheci as árvores recém-plantadas em 1978, quando passava pela Avenida Protásio Alves a caminho da PUC.