Para mostrar que não é um “banana” – e que manda na banda – o presidente Jair Bolsonaro plantou a semente da crise em três instituições que precisam de independência para funcionar a contento: a Polícia Federal (PF), a Receita Federal do Brasil e o Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf).
O termo “banana” foi usado pelo próprio presidente na sexta-feira (16), ao ser questionado sobre a substituição do superintendente da PF no Rio de Janeiro, Ricardo Saadi. Bolsonaro mostrou irritação ao saber que o substituto de Saadi seria o superintendente de Pernambuco, Carlos Henrique Oliveira Sousa. Seu candidato era o do Amazonas, Alexandre Silva Saraiva.
— Pergunta para o ministro da Justiça, Sergio Moro. Já estava há três, quatro meses para sair o cara de lá. Quando vão nomear alguém, falam comigo. Eu tenho poder de veto ou vou ser um presidente banana agora? Cada um faz o que bem entende e tudo bem? Não – exaltou-se.
O presidente recuou mais tarde e disse que tanto fazia se o indicado fosse Sousa ou Saraiva, mas deixou uma fratura exposta e a suspeita de que age movido por interesses pessoais e familiares.
Programada para dezembro ou janeiro, a substituição de Saadi foi antecipada por decisão pessoal de Bolsonaro. Motivo? As investigações sobre as “movimentações atípicas” do motorista Fabrício Queiroz, identificadas pelo Coaf, e que desaguaram nas movimentações atípicas do filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro.
Na Receita Federal, a situação não é muito diferente. O foco da crise também tem origem no Rio. O jornal O Estado de S.Paulo informou que os seis subsecretários da Receita ameaçam entregar os cargos caso as indicações políticas se confirmem. O chefe da Receita no Rio, Mário Dehon, foi informado de que será exonerado a pedido de Bolsonaro. Motivo? A resistência em nomear delegados indicados pela família do presidente para postos chaves, incluindo a alfândega do porto de Itaguaí.
O presidente do Sindifisco, Kleber Cabral, avisou que, se Dehon for afastado, o governo terá como resposta a renúncia coletiva de chefes em todos os níveis da hierarquia da Receita. Seriam pelo menos 200 em todo o país.
No caso do Coaf, Bolsonaro planeja transferir o órgão para o guarda-chuva do Banco Central, depois de o Congresso ter barrado a mudança do Ministério da Economia para o da Justiça. A mordaça no Coaf foi colocada pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), barrando investigações a partir de um pedido da defesa de Flávio Bolsonaro, o que põe em dúvida os movimentos do presidente da República em relação ao órgão.
ALIÁS
A nomeação do procurador-geral da República vai se transformar em mais uma dor de cabeça para Jair Bolsonaro se comprar briga com o Ministério Público Federal, ignorar a lista tríplice e escolher um desconhecido, por critérios exclusivamente pessoais.