Ao anunciar em Pelotas o fim dos radares móveis nas rodovias federais "a partir da semana que vem", o presidente Jair Bolsonaro flerta, mais uma vez, com a irresponsabilidade. Foi assim quando anunciou que retiraria todos os pardais, usando o mesmo pretexto de "acabar com a indústria da multa".
— Estou com uma briga na Justiça, junto com o ministro Tarcísio Gomes de Freitas, da Infraestrutura, para acabar com os radares móveis do Brasil. Isso é coisa de uma máfia de multas, é um dinheiro que vai para o bolso de poucos aqui no Brasil, é uma indústria de multas. A partir da semana que vem, não teremos mais essa covardia de radares móveis no Brasil.
Além de não ter consultado a Polícia Rodoviária Federal, o presidente expressou desprezo pelos estudos técnicos. Questionado pelos jornalistas, respondeu:
— Consultei muita gente (para tomar a decisão), agora, o uso (dos radares móveis) não está sendo adequado. Então, está suspenso até segunda ordem isso aí. Chega de estudiosos e especialistas que só fazem assaltar o contribuinte. Estou tentando acabar com os radares fixos também, mas estou com problema na Justiça. Quero é dar liberdade para o povo. E, aquele que se excede, a polícia pode pará-lo, sim, e aplicar uma multa que ele merece. Mas não ficar usando como caça-níquel.
A afirmação sobre parar o motorista que se excede na velocidade e aplicar uma multa é contraditória. Se não usar os radares, como os policiais poderão saber se o motorista estava trafegando acima da velocidade permitida? Além disso, a legislação estabelece que multas por excesso de velocidade só podem ser aplicadas se a infração for registrada por equipamento eletrônicos aferidos pelo Inmetro.
O presidente deveria saber que segurança no trânsito se faz combinando educação com punição aos infratores, mas não oferece nenhuma coisa nem outra. Com um discurso populista, tenta apenas agradar aos motoristas que reclamam de uma suposta "indústria da multa". A esperança é de que, em defesa da vida, a Justiça barre mais esse surto de populismo.
Os radares móveis têm sido usados como instrumento de proteção a quem trafega nas rodovias brasileiras em feriadões, por exemplo. Especialistas em segurança no trânsito são unânimes em afirmar que a percepção do risco de levar uma multa é um dos principais inibidores do excesso de velocidade.