Nem completou seis meses no Palácio do Planalto e o presidente Jair Bolsonaro mudou o discurso da campanha de 2018, contrário à reeleição, e fala abertamente em concorrer em 2022. Ontem, em Eldorado, cidade do interior de São Paulo em que foi criado, fez um discurso inequívoco de candidato ao segundo mandato:
– Eldorado é uma prova viva de que todos nós podemos chegar no local que queremos e lutamos por ele. Eu quero mudar o Brasil juntamente com vocês. Meu muito obrigado a quem votou e quem não votou em mim. Lá na frente, todos votarão, tenho certeza.
Mais tarde, ao participar da Marcha para Jesus, em São Paulo, o presidente voltou ao tema:
– Se tiver uma boa reforma política eu posso até jogar fora a possibilidade de reeleição. Agora, se não tiver uma boa reforma política e se o povo quiser, estamos aí para continuar mais quatro anos.
Líderes religiosos aplaudiram a ideia de o presidente concorrer a novo mandato em 2022.
O discurso de reeleição pode ser enquadrado no que o general Santos Cruz, recém demitido da Secretaria de Governo, chamou de “show de besteiras”. Em entrevista à revista Época, Santos Cruz disse:
– (...) Se você fizer uma análise das bobagens que se têm vivido, é um negócio impressionante. É um show de besteiras. Isso tira o foco daquilo que é importante. Tem muita coisa importante que acaba não aparecendo porque todo dia tem uma bobagem ou outra para distrair a população.
Falar de reeleição faltando mais de três anos para a escolha do novo presidente tira o foco das reformas que precisam ser aprovadas. Sem elas, dizem os interlocutores do governo, não haverá retomada do crescimento nem a necessária geração de empregos.
Bolsonaro fez pouco caso das declarações de Santos Cruz:
– Ele (Santos Cruz) integrou o governo por seis meses e nunca disse que tinha bobagem lá dentro.
Outro ministro demitido, Gustavo Bebbiano, da Secretaria-Geral, disse a um amigo gaúcho que o governo erra ao “querer levar as coisas a ferro e fogo, porque elas não funcionam dessa forma”.
Bebbiano diz que Bolsonaro precisa deixar para trás o espírito beligerante, porque a campanha já acabou, e cita as agressões ao deputado Rodrigo Maia como exemplo de postura equivocada:
– Estava tudo acertado com o presidente da Câmara (para a aprovação das reformas). Só que ninguém contava com ofensas gratuitas. Ninguém gosta de ser destratado, principalmente quando se propôs a atuar em parceria e estava se comportando de forma correta.
ALIÁS: Fritado por Jair Bolsonaro como Santos Cruz, Gustavo Bebbiano diz que a desconfiança impera no Planalto e que as pessoas se sentem inseguras pela forma como o presidente queima os assessores.