Defendida com entusiasmo pelo senador Luis Carlos Heinze (PP), no programa Gaúcha Atualidade, a proposta de construir um porto privado em Torres provocou reações de indignação não apenas entre ambientalistas, moradores e veranistas, mas, principalmente, de parte de líderes da Zona Sul. O temor é de que a construção de um terminal no Litoral Norte acabe por inviabilizar o porto de Rio Grande.
O argumento de Heinze, de que Santa Catarina, com território menor, tem cinco portos marítimos, não convence os adversários da ideia. O superintendente do Porto de Rio Grande, Fernando Estima, disse à jornalista Carolina Bahia que o projeto é inviável:
– A proposta de um porto em Torres não para em pé. Na hora em que fizerem o estudo de viabilidade, vão ver que o custo e a falta de infraestrutura não compensam.
Estima informou que está trabalhando no projeto Porto RS, atendendo inclusive aos interesses dos empresários da Serra, que seriam os maiores beneficiados com o projeto de Torres, segundo Heinze. E questiona:
– Se há interesse de investidores, por que não concentrar em Rio Grande, já que temos estrutura para novos terminais?
Heinze invoca a proximidade com a região industrializada da Serra como uma das principais vantagens para empresários investirem R$ 1 bilhão na construção de um porto em Torres e diz que já existe um empreendedor disposto a bancar a obra, que, por enquanto, não passa de um esboço de projeto. O senador encampou uma ideia do ex-prefeito de Passo Fundo Fernando Machado Carrion e comprou briga com a Zona Sul.
O deputado Fabio Branco (MDB) é um dos mais indignados. Natural de Rio Grande, o ex-chefe da Casa Civil divulgou uma nota com cinco motivos para ser contra o projeto:
– A região sul, especialmente Rio Grande, assistiu nos últimos anos ao fim do sonho dourado do Polo Naval, que deixou um rastro de desemprego e desesperança. Não merecemos esse golpe de misericórdia.
Na nota, o deputado diz que o Rio Grande do Sul tem um complexo portuário consolidado em Rio Grande, que registra sucessivas quebras de recorde na movimentação de cargas. “Nosso custo logístico é elevado em função de estradas que carecem de duplicação, de tarifas de pedágio caríssimas e de dificuldades para realizar as dragagens de manutenção”, argumenta.
Branco lembra que há uma dragagem de manutenção em andamento no Porto de Rio Grande, ao custo de R$ 440 milhões para o governo federal. Sugere que o Rio Grande do Sul se mobilize pela conclusão da duplicação da BR-116 e por investimentos em ferrovias, para que as cargas possam chegar ou sair de Rio Grande por trem. Diz que não é lógico investir R$ 1 bilhão em um terminal completamente novo, mesmo que os recursos sejam privados, porque um porto em Torres precisaria de infraestrutura auxiliar e sobrecarregaria rodovias que já vivem estranguladas em períodos de escoamento de safra e durante o veraneio.