A transmissão da sessão pela TV permite aos eleitores com paciência ou curiosidade científica conhecer as entranhas do Senado. Ao vivo e em cores, os brasileiros podem acompanhar nesta sexta-feira uma amostra da várzea em que se transformou a casa que deveria ser sinônimo de bom senso e ponderação, mas há muito perdeu-se no pântano das brigas em que a frase “Vossa Excelência é um canalha” soa como natural. 

Gritos, xingamentos, baixaria e até um embate em que a senadora Kátia Abreu arrancou uma pasta de documentos das mãos do autodeclarado presidente Davi Alcolumbre (DEM-AP) marcam a sessão que envergonha o Brasil.

— Isso é pior do que briga de lavadeira. Em 68 anos, nunca vi tanta desmoralização —  disse o senador Jayme Campos (DEM-AL).

— Está parecendo Boca e River – comparou o estreante Jorge Kajuru (PSB-GO).

— Parece que estamos assistindo a uma briga de diretório estudantil — declarou outro envergonhado, Omar Aziz (PSD-AM).

 O motivo da briga na primeira sessão de 2019, com a Casa renovada, é a escolha do presidente. De um lado, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), o homem que incorpora boa parte do zoológico quando a comparação é com bichos. Camaleão, porque se metamorfoseia. Raposa, pela esperteza. Lagartixa, porque perde um pedaço do corpo e se regenera. Corvo, por motivos que dispensam explicações. Do outro, seus opositores, buscando artifícios no regimento interno e fora dele para impedir uma nova eleição do alagoano para a presidência.

 O voto aberto, com seu poder de constranger os eleitores de Renan, foi a arma que restou aos adversários para impedir sua vitória. Fracassada a tentativa de enterrar o voto secreto no Supremo Tribunal Federal, os adversários de Renan manobraram para aprovar o voto aberto no plenário. Alcolumbre colocou a questão em votação e anunciou a ampla vitória do voto aberto por 50 votos a dois. Quem era contra, na maioria, se absteve. Sendo ele o maior interessado, por ser candidato a presidente, o resultado foi contestado pelos legalistas (que diziam estar afrontando o regimento) e pelos aliados de Renan. Multiplicaram-se as vozes pedindo a suspensão da sessão. Kátia só aceitava devolver os documentos se Alcolumbre entregasse a presidência ao senador mais velho.

Até às 20h o impasse continuava em plenário.

Atualização: Às 22h15min, em meio a nova briga, a sessão foi interrompida. Os senadores retornam às 11h deste sábado para novo round. Nessa sessão, que deve ser presidida pelo senador mais velho, será eleita a nova mesa diretora do Senado.