Os fatos que marcaram os dias seguintes à vitória de Jair Bolsonaro e as entrevistas dos primeiros ministros confirmados permitem fazer um esboço do que será o seu governo a partir de 1º de janeiro. Bolsonaro amenizou o discurso de campanha, passou a defender com mais ênfase o respeito à Constituição e anunciou os primeiros cinco ministros.
A confirmação de Sergio Moro como ministro da Justiça e da Segurança Pública causou impacto imediato – e positivo – no mercado financeiro, que vive um período de lua-de-mel desde que Bolsonaro passou as últimas três semanas de campanha na liderança das pesquisas. Com a entrada de Moro no ministério, a bolsa bateu o recorde histórico e fechou a quinta-feira em 88.419 pontos (a máxima anterior era de 87.652 pontos, em 26 de fevereiro de 2018).
Como fizera na campanha, Bolsonaro continuou dando preferência às redes sociais para se comunicar com seus eleitores. Deu entrevistas a emissoras de TV e convocou coletiva sem a presença de repórteres de jornais, na qual detalhou algumas decisões que, até então, eram dúvidas:
1. Vai mesmo transferir a embaixada do Brasil em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém;
2. Desistiu de fundir os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente;
3. Vai propor mudança na legislação para que policiais que matarem em confronto não sejam punidos;
4. Concorda que seja aprovada uma parte da reforma da Previdência proposta por Michel Temer (mas não disse qual), mas acha difícil o Congresso votar qualquer matéria porque está esvaziado após a eleição;
5. Não tem um nome preferido para a presidência da Câmara. Citou, entre os possíveis candidatos, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Alceu Moreira (MDB-RS);
6. Confirmou que não tem conversado com o vice general Hamilton Mourão;
7. Fará nova cirurgia no dia 12 de dezembro para retirada da bolsa de colostomia que usa desde o atentado que sofreu no dia 6 de setembro, em Juiz de Fora.
Com as limitações impostas pela bolsa de colostomia, Bolsonaro optou por transformar sua residência na Barra da Tijuca em escritório político. A ideia é ir a Brasília na quarta-feira e retornar na quinta.
A primeira semana mostrou que a convivência entre os ministros Paulo Guedes e Onyx Lorenzoni será tensa. Guedes não tem familiaridade com os ritos da política e terá de aprender a medir as palavras para não criar atritos desnecessários. Dois exemplos reveladores do pavio curto de Guedes destes primeiros dias:
1. Ao dizer que o Mercosul não é prioridade, em resposta áspera à pergunta de uma jornalista argentina, semeou pânico entre os calçadistas gaúchos, que exportam sapatos para o país vizinho;
2. Ao comentar a reação negativa de industriais à extinção do Ministério da Indústria e Comércio, foi grosseiro: “Vamos salvar a indústria brasileira, apesar dos industriais”.