Eleito para administrar um Estado que pode ser comparado a uma empresa em recuperação judicial, Eduardo Leite precisa inaugurar o mês de novembro pedindo ajuda, sem rodeios, aos deputados estaduais atuais e aos que tomarão posse em 31 de janeiro. Com humildade, mente e coração abertos, o futuro governador deve convidar os parlamentares da base e da oposição para uma conversa franca.
O atraso no pagamento dos salários de outubro, que só começarão a ser pagos em 12 de novembro, pode ser o motivo para antecipar o diálogo com a Assembleia e apresentar as bases do que ele chama de “consenso estratégico”.
Nesta quinta-feira (1°) pela manhã, ao retornar de São Paulo, Leite vai se reunir com seu conselho político, formado pelos presidentes dos partidos aliados. São pessoas experientes, que sabem da impossibilidade de aprovar os projetos necessários sem um acordo que leve em conta o esgotamento das fontes tradicionais de financiamento do déficit.
Renovar as alíquotas de ICMS aumentadas em 2015 e que valem somente até 31 de dezembro é tarefa para ontem. Na Assembleia, enfrenta resistências da base do governo Sartori – caso do deputado Edson Brum – e de deputados dos partidos que integrara sua aliança, como Sergio Turra, do PP. Outra urgência é impedir a aprovação de projetos da chamada pauta-bomba, que podem aprofundar ainda mais o rombo nas contas. Não custa lembrar que o caixa é um só e que a autonomia dos poderes, que lhes permitiu passar incólumes pela crise, não significa carta branca para criar novas despesas.
Na bancada que assume em 31 de janeiro, Leite não tem maioria nem para a aprovação de projetos que exigem maioria simples. Há disposição de boa parte dos novos deputados em conversar com o governador eleito, sem exigir cargos nem favores. Mais votado na eleição de 7 de outubro, tenente-coronel Luciano Zucco, por exemplo, tomou a iniciativa de ligar para Leite e oferecer ajuda.
Até o PT, que é oposição declarada, abriu uma janela para o diálogo. Um dia depois de o deputado Luiz Fernando Mainardi ter admitido conversar com o eleito, apesar de suas declarações contra o PT, o deputado Adão Villaverde escreveu em seu perfil no Twitter: “Concordo com @DepMainardi que diálogo sem renunciar princípios é fundamental para @s gaúch@s (...)”.
Assim que o governo confirmou o atraso de 12 dias no início do pagamento dos salários, começaram a surgir teorias conspiratórias e as simplificações de sempre. A mais repetida é que Sartori estaria se vingando pela derrota nas urnas. Nada a ver. O governador não pagou por falta de dinheiro. A cada mês, a situação fica um pouco pior. É possível que os servidores com salários mais altos só recebam em dezembro o salário de outubro.
A conta que ficará para o próximo governo é a mais alta de todas as transições desde a volta das eleições diretas para governador. Sem um acordo que envolvam, também, os outros poderes, o Estado caminhará, célere, para o colapso nos serviços públicos.