A estagnação das demais candidaturas levou os partidários de Jair Bolsonaro (PSL) a intensificarem nas redes sociais o discurso de que é possível vencer a eleição no primeiro turno. Em diferentes plataformas, multiplicam-se os apelos aos eleitores de Geraldo Alckmin (PSDB), Henrique Meirelles (MDB) e João Amoêdo (Novo) para que desistam de seus candidatos e ajudem a eleger Bolsonaro no primeiro turno. É indiscutível que há uma onda pró-Bolsonaro e que ela cresceu a partir das manifestações de domingo, como atestam Ibope e Datafolha.
Para que não haja segundo turno, Bolsonaro precisa não só tirar votos dos adversários como conquistar indecisos, que são 5%, e eleitores dispostos a votar nulo ou em branco (8%). Ainda que estejam estagnados, os adversários de Bolsonaro têm pontuação suficiente para levar a disputa para o segundo turno. Para vencer no domingo, o primeiro colocado precisa ter metade mais um dos votos válidos (descontados brancos e nulos).
Bolsonaro tem 32%. Somados, Haddad, Ciro, Alckmin, Marina, Amoêdo, Meirelles, Cabo Daciolo e Alvaro Dias têm 54%. A ironia é que, diante da proximidade da eleição, até o voto de brincadeira no caricato Cabo Daciolo (que passou de 1% para 2%) passa a ser decisivo para levar a decisão para o segundo turno. Da mesma forma, os que não chegam a 1 nas pesquisas (Guilherme Boulos, João Goulart Filho, Eymael e Vera Lúcia) entram na conta, porque o que interessa são os números absolutos de votos.
De 1989 até agora, o Brasil só teve duas eleições decididas no primeiro turno – as de 1994 e de 1998, quando Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi eleito e reeleito.
O cenário de agora guarda semelhança com o de 1989, quando o centro lançou várias candidaturas e acabou excluído do segundo turno. No total, eram 22 candidatos. Hoje são 13. Na véspera da eleição, Fernando Collor (PRN) liderava a pesquisa do Datafolha com 26%, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tinha 15%, Leonel Brizola (PDT), 14%, Mario Covas (PSDB), 11%, Paulo Maluf (PDS), 9%, e Ulysses Guimarães (PMDB), 5%. Ou seja: só Collor estava garantido no segundo turno. Para surpresa e decepção dos brizolistas, Lula acabou classificado com um discurso radical de esquerda, mas perdeu para Collor.
Ex-governador de Alagoas, Collor elegeu-se com a imagem de “caçador de marajás”, a bordo de uma campanha moderna, usando recursos de marketing que os candidatos mais tradicionais desprezavam. Naquele tempo de grandes comícios, Collor apostou na propaganda de TV.
Sete eleições depois, o PSDB achou que poderia ganhar com uma aliança numerosa, que lhe garantisse mais tempo de TV. Geraldo Alckmin ficou com um latifúndio na propaganda, mas amarga o quarto lugar nas pesquisas. Com oito segundos e arrecadação de R$ 1,3 milhão, o líder nas pesquisas apostou nas redes sociais e no discurso radical. Henrique Meirelles investiu R$ 45 milhões do próprio bolso e tem os mesmos 2% de Cabo Daciolo (arrecadação de R$ 9 mil).