A facada desferida contra o candidato Jair Bolsonaro em Juiz de Fora atenta contra a tradição democrática brasileira. Nunca antes numa eleição se viu coisa parecida na história recente do país.
A facada, que atingiu o fígado e o intestino, poderia ter matado o líder nas pesquisas de intenção de voto, a um mês da eleição. Um dos seus filhos, Flávio Bolsonaro, disse que o pai perdeu muito sangue e chegou ao hospital "quase morto", com a pressão em 10 por 3.
Candidatos a presidente têm proteção permanente da Polícia Federal. A investigação do atentado vai dizer se houve negligência da segurança durante o ato em Minas Gerais.
O autor do atentado, preso e identificado como Adélio Bispo de Oliveira é um lunático, como indica seu perfil no Facebook. Um lobo solitário, que no passado foi filiado ao PSOL, adepto de teorias conspiratórias que, com seu gesto tresloucado, já está alimentando outras teses mirabolantes e a promissora indústria de notícias falsas.
Não há, até aqui, nenhum indício de que o aloprado tenha agido a mando de algum adversário, até porque nenhum seria tolo de planejar um atentado e transformar o líder nas pesquisas em vítima.
Todos os adversários de Bolsonaro condenaram o ataque e se solidarizaram com o concorrente. De homens e mulheres de bom senso não se esperaria outra coisa: a disputa tem de se dar no campo das ideias.
É cedo para especular o efeito que o episódio produzirá na campanha eleitoral. De imediato, a Bolsa subiu, numa interpretação dos agentes do mercado financeiro de que a facada enfraquece as candidaturas de esquerda. O incidente dominou o noticiários nas emissoras de rádio e TV de todo o Brasil, virou o assunto mais comentado nas redes sociais e teve repercussão no Exterior.
A campanha deste ano é uma das mais tensas desde 1989. Nas redes sociais, militantes se agridem o tempo todo. O próprio Bolsonaro disse, no sábado passado, em Rio Branco:
— Vamos fuzilar essa petralhada aqui do Acre e botar esses picaretas pra correr.
Questionado na Justiça pelo PT e pela Procuradoria-Geral da República, disse que usou uma figura de linguagem.
Começou cedo
A violência começou na pré-campanha, com os ataques à caravana do ex-presidente Lula no Rio Grande do Sul e no Paraná, em março. Os petistas foram recebidos por adversários com relho, pedradas e queima de pneus para bloquear rodovias. No Paraná, dois ônibus da comitiva foram alvos de tiros. Até hoje a autoria não foi esclarecida.
Real e virtual
O discurso de ódio beira a insanidade nas redes sociais. O atentado contra Jair Bolsonaro deve servir para que os líderes políticos – incluindo o próprio candidato – orientem seus militantes a trocarem as agressões pelo debate de ideias. O pensamento de que as divergências se resolvem na bala ou na ponta da faca serve de adubo para a violência.
Aliás
Jair Bolsonaro correu sério risco de morrer, mas a situação foi controlada pela equipe médica. Teve sorte de o maluco de Minas não estar usando uma arma de fogo.