A série de entrevistas no Jornal Nacional com os candidatos que aparecem nas primeiras posições nas pesquisas é, ao mesmo tempo, a principal vitrine para os concorrentes e o pesadelo dos assessores. Um escorregão no horário nobre da TV Globo reverbera por todo o país, não só pela audiência, que atinge 27,6 milhões de telespectadores por minuto, mas pela tradição. É a última janela antes da propaganda de rádio e TV, que começa no dia 31.
Em eleições anteriores, a entrevista ao JN já era a mais esperada e também a mais temida. Os militantes detestam perguntas incisivas e sempre acham que o outro candidato saiu favorecido.
Primeiro entrevistado, Ciro Gomes (PDT) ganhou mais do que perdeu. Conseguiu explicitar melhor a proposta da qual todo mundo debochava no início da campanha, a de tirar 64 milhões de brasileiros do SPC, agora detalhando que se trata de uma renegociação. Ciro mostrou uma qualidade que já aparecera nos debates e entrevistas anteriores, a capacidade de comunicação. Perdeu pontos quando disse que colocaria a mão no fogo pelo presidente do PDT, Carlos Lupi, e contestou uma informação pública, a de que Lupi é réu em uma ação de improbidade administrativa.
Seguidores de Jair Bolsonaro falaram tanto da entrevista, que, ao longo do dia, o assunto era o mais falado do Twitter. O tom era de vacina. Diziam que os entrevistadores tentariam “trucidar” o candidato.
A entrevista de 27 minutos foi tensa do início ao fim, com Bolsonaro sendo confrontado com declarações e práticas passadas. Na maior parte do tempo, repetiu frases que fazem a alegria de seus eleitores em resposta a perguntas sobre homofobia, diferenças salariais entre homens e mulheres e combate à criminalidade com o aumento da violência contra bandidos.
Voltou a dizer que não trabalha com a hipótese de se divorciar do economista Paulo Guedes, a quem já escolheu para ser ministro da Fazenda. Ao final, disse que interpretava como um alerta a declaração de seu vice, general Hamilton Mourão, em 2017, de que, se os poderes não buscassem uma solução para a crise política, o Exército teria de impor uma solução.