Um mês depois do episódio mais embaraçoso para o Judiciário neste ano, o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Rogério Galloro, expôs detalhes dos bastidores do dia em que o ex-presidente Lula foi quase solto pelo desembargador plantonista do Tribunal Regional Federal da 4ª Região.
Galloro assumiu a chefia da PF em março, no lugar de Fernando Segovia, demitido por ter feito declarações que desgastaram o governo de Michel Temer. Em sua primeira entrevista, o novo diretor-geral disse ao jornal O Estado de S. Paulo que momentos depois de ter sido notificado da decisão do desembargador Rogério Favreto, recebeu telefonema da procuradora-geral da República, Raquel Dodge.
– Concluímos que iríamos cumprir a decisão do plantonista do TRF-4. Falei para o ministro Raul Jungmann: “Ministro, nós vamos soltar”. Em seguida, a Raquel Dodge me ligou e disse que estava protocolando no STJ contra a soltura. E agora? Depois foi o Thompson quem nos ligou. “Eu estou determinando, não soltem.” O telefonema dele veio antes de expirar uma hora. Valeu o telefonema – relatou Galloro.
A sequência de telefonemas entre chefes de órgãos e poderes, as decisões antagônicas com pitadas de ideologia partidária, a quebra de hierarquia processual, provocada também pelo juiz Sergio Moro, fizeram do episódio um caso a ser estudado nas faculdades de Direito. Convém lembrar que os deputados proponentes da soltura de Lula também articularam para que Favreto, ex-filiado petista, ficasse com o processo, observando o seu período de plantão no TRF-4 – informação que é facilmente encontrada no site da Justiça.
A Procuradoria-Geral da República não comentou as revelações de Galloro. O PT divulgou nota dizendo que a entrevista “expõe as entranhas do abuso de autoridade, da violência jurídica (...). É um verdadeiro retrato do sistema podre a que estamos submetidos”.
Para deixar Lula nas manchetes, o PT informou que apresentará no Senado convocação para que Dodge preste esclarecimentos sobre a posição tomada no dia 8 de julho. Tudo indica que o pedido morrerá na casca.