* Correção: a desembargadora com quem João Pedro Gebran Neto conversou é Salise Monteiro Sanchotene, não Cláudia Cristofani, como publicado entre 20h56 de 9 de julho e 15h12 de 10 de julho. O texto já foi corrigido.
O primeiro encontro dos três desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) que protagonizaram a batalha jurídica do domingo (8), que resultou no prende e solta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com a manutenção da prisão ao final, foi marcado por desconforto. Os membros da Corte participaram nesta segunda-feira (9) da cerimônia de posse do desembargador catarinense Osni Cardoso Filho.
O presidente do TRF4, Carlos Eduardo Thompson Flores, que conduziu o evento, foi o primeiro a entrar no plenário. Logo depois, Rogério Favreto, que concedeu liminar para soltar Lula, sentou-se em seu lugar e ficou durante quase toda a cerimônia olhando para o celular.
O desembargador João Pedro Gebran Neto, relator da Lava-Jato e contrário à soltura do petista, foi o último a entrar entre os 27 desembargadores. Ele recém havia proferido decisão de manter a prisão do ex-presidente. Chegou sorridente ao plenário e sentou-se em seu lugar.
Assistiu a toda a cerimônia e pouco mexia no telefone. Os três não se cumprimentaram durante todo o evento. Gebran saiu do plenário conversando com alguns colegas. Logo depois, Thompson Flores deixou a sala. Parecendo um pouco deslocado, Favreto foi um dos últimos a sair do plenário.
Antes de deixar o local, ainda apertou a mão direta do desembargador Victor Laus, um dos integrantes da 8ª Turma do TRF4, responsável pelos processos da Lava-Jato. Também ficou alguns minutos conversando com o advogado catarinense Márcio Vicari. Perguntado se haviam falado sobre o embate jurídico de ontem e eventuais ameaças a Favreto, Vicari disse que não, mas observou:
— Ele chegou a comentar algo sobre o celular dele, que teria que trocar, mas não disse nada sobre ameaças.
Em cada roda dos convidados para a cerimônia o assunto era o vaivém sobre a liberdade de Lula. Já na fila para cumprimentar Cardoso Filho, Gebran ficou conversando com Leandro Paulsen e Salise Monteiro Sanchotene, ambos com atuação nos processos da Lava-Jato. A liminar de domingo não era pauta. Mais atrás, Favreto estava junto de Jorge Antônio Maurique. Chegou a mostrar o celular ao colega e disse:
— Estou recebendo até ameaças no meu celular. Acho que vou ter que ir na polícia. O cara aquele, o Alexandre Frota, divulgou o meu número.
Gebran e Thompson Flores cumprimentaram primeiro o novo colega e deixaram o saguão do tribunal. Favreto saiu por último e entrou direto nos elevadores dos juízes e desembargadores, passando pelos jornalistas presentes, mas, orientado pela assessoria de imprensa da Corte, não parou para dar entrevista.
Discursos
O primeiro a discursar foi o desembargador Rómulo Pizzolatti, escolhido para dar boas-vindas ao novo desembargado. O mal-estar entre os colegas de toga não foi citado nem mesmo de forma indireta.
Depois, foi a vez de Thompson Flores falar. Estava se encaminhando o término de sua manifestação e para dar a palavra ao novo colega, quando, de forma velada, abordou o longo domingo na Corte.
— A cordialidade é uma de suas características principais (sobre Cardoso Filho). A cordialidade é fundamental para o nosso trabalho e deve permanecer neste tribunal.
Osni Cardoso Filho, que assumiu como desembargador em uma turma previdenciária, não tratou em seu discurso, nem indiretamente, sobre os fatos de domingo envolvendo os colegas. No entanto, foi enfático em entrevista após a cerimônia.
— Não é possível convivermos em ambiente de discórdia, de conflito. Temos de acabar com isso e dentro do Poder Judiciário mais ainda é essencial que haja um bom convívio entre os pares e entre os servidores.