Pressionada por líderes dos principais partidos que sustentam a candidatura do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), a senadora Ana Amélia Lemos (PP) deixou aberta uma porta para rever a decisão de não aceitar outra candidatura que não seja a reeleição para o Senado.
Nas últimas 48 horas, a pressão aumentou e a senadora prometeu refletir sobre as ponderações que ouviu sobre sua responsabilidade diante da possibilidade de retrocesso institucional com a eleição de um candidato sem compromisso com a democracia ou da cisão do país entre radicais de esquerda e de direita.
A possível indicação desubverte a lógica tradicional de que uma chapa encabeçada por um político do Sudeste deve, obrigatoriamente, ter como vice um nordestino.
— Se não temos como avançar no território vermelho, temos de fortalecer nossas posições no azul — raciocina um dos gurus de Alckmin.
Traduzindo: se o Nordeste é território do ex-presidente Lula e tende a votar em quem ele indicar, caso seja impedido de concorrer, Alckmin só teria uma chance: crescer no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, avançando sobre posições que vêm sendo ocupadas por Jair Bolsonaro (PSL).
Um desses territórios é o do agronegócio, área em que em que Ana Amélia transita com desenvoltura de norte a sul.
Líderes do centrão acreditam que a senadora pode conquistar o voto do eleitor do campo, hoje inclinado a escolher Bolsonaro. O motivo mais forte, porém, é a necessidade de encontrar uma biografia sem mácula para completar a chapa.
— Ana Amélia daria dignidade Centrão, que tem uma imagem muito ruim pela presença de pessoas como Valdemar da Costa Neto e Ciro Nogueira. Ela tem ficha limpa, conduta ilibada e um desempenho notável como senadora — elogia outro líder do condomínio de Alckmin.
A senadora admite que está refletindo sobre o peso da decisão que terá de tomar até o final da tarde de hoje. A uma pessoa de suas relações, contou que está alarmada com o cenário e com os riscos que o país corre. E perguntou:
— Que diriam meus eleitores se eu aceitasse esse desafio?
O presidente do PP, Celso Bernardi, confirmou as pressões, mas disse que não está pensando em plano B para a candidatura ao Senado, nem em rediscutir a candidatura de Luis Carlos Heinze ao Piratini:
— Só vou me movimentar se duas pessoas pedirem: a senadora e o presidente do PP, Ciro Nogueira. Até agora, nenhum dos dois pediu.
Na hipótese de Ana Amélia desistir de concorrer ao Senado para ser vice de Alckmin, especula-se que o PP possa desistir da candidatura própria e aliar-se a Eduardo Leite (PSDB). Neste caso, Heinze seria candidato ao Senado.
Caso esse movimento se confirme, Bolsonaro perderia o único palanque no Rio Grande do Sul. Seu partido, o PSL, está aliado ao PP, mas Ana Amélia não aceita dividir o palanque com o ele e já externou sua preferência por Alckmin. Há um ano, em painel da revista Voto, em Porto Alegre, ela e o então governador de São Paulo dividiram o palco e trocaram elogios. Em 2014, Ana Amélia apoiou o tucano Aécio Neves.