Pouco ligada nos temas do futebol, eu mal tinha ouvido falar de Taison até a noite de quarta-feira, quando assisti à reportagem de Tino Marcos, no Jornal Nacional, contando a vida do menino de Pelotas que saiu da miséria para brilhar nos gramados do mundo e é uma das esperanças da Seleção de Tite. Toda a série de perfis dos convocados para o Mundial da Rússia é emocionante, mas a história de Taison me tocou mais do que a dos outros retratados até aqui pelo talentoso repórter da Globo.
Não foi pela proximidade geográfica, que não sou dada a bairrismos, mas pela história mesmo e por um detalhe: o prato de macarrão. Taison, que muita fome já passou na vida, ia jogar de barriga vazia no dia em que teve a primeira grande oportunidade de mostrar seu futebol. Ganhou um prato de macarrão e arrasou em campo.
A história de Taison me fez pensar no controle da natalidade, remédio simplista indicado por pessoas bem alimentadas como solução para acabar com a violência. Não se está falando aqui do saudável planejamento familiar, que deveria ser política de Estado e que qualquer pessoa esclarecida adota.
Na China da política de filho único, Taison não teria nascido. Nem ele nem meus quatro irmãos. Em qualquer país que adotasse o limite de dois filhos por casal, Taison teria sobrado. Três dos meus irmãos também. Eles não teriam lugar no Brasil imaginado por autodeclaradas "pessoas de bem", que querem impor aos pobres o controle da natalidade pelo Estado e deixar que ricos e remediados decidam quantos filhos podem ter. Porque Taison é um dos 11 filhos de uma família paupérrima, que só melhorou de vida depois de sua entrada no mundo do futebol profissional.
Eu me identifico com Taison porque venho de uma família de agricultores pobres que tiveram cinco filhos em nove anos. Se o Estado impusesse o limite de dois, meus queridos irmãos Beth, Paulo e Saulo teriam sido impedidos de nascer. Só em Imposto de Renda, os três já deram ao Estado muito mais do que receberam dele.
Tivemos uma infância de muitas carências materiais, sem acesso à saúde pública e a bens de consumo, mas plena de amor e respeito. Na dificuldade, aprendemos a ser solidários e resilientes. Nenhum de nós virou bandido ou precisou trapacear para ascender na pirâmide social. Se hoje todos temos curso superior completo e bons empregos, foi porque meu pai e minha mãe trabalharam de sol a sol para que pudéssemos estudar.
Porque tivemos educação, não precisamos que o Estado autoritário nos dissesse quantos filhos podíamos ter. Nossa família diminui a cada geração. Minha avó paterna teve 14 filhos. Meus pais, os cinco já mencionados. Eu tenho dois, Paulo dois, Beth uma, Saulo uma e Roseli não tem filhos. Nenhum de nós tem netos e não sei se os teremos. Nossos filhos são livres para fazer o próprio planejamento familiar.
Não faltará quem diga que Taison é a exceção, como quase todos os craques do futebol, que os tempos são outros de quando eu nasci, que o problema do Brasil é o excesso de filhos das famílias pobres. Então eu lhes pergunto, senhoras e senhores: o controle da natalidade teria nos livrado desses bandidões, que roubam dinheiro público? Foi por excesso de irmãos que donos de empreiteiras, associados a políticos corruptos, saquearam o país? Vocês acham justo que o governo decida por nós quantos filhos podemos ter, ou concordam que seria melhor investir em educação para que os pobres possam ter uma profissão digna e trabalhar para melhorar o país?