A greve dos caminhoneiros pôs a nu o despreparo do governo Michel Temer para lidar com situações de tensão fora da sua zona de conforto, a torre de marfim do Congresso Nacional. Não só o governo ignorou os sinais emitidos pelos caminhoneiros nas últimas semanas, como seguiu aumentando o preço do diesel sem preparar um plano de contingência para o caso de paralisação.
Descobriu-se que não tinha sequer um interlocutor com experiência em negociação. O resultado é uma greve que ganhou corpo e apoio de outros prejudicados pelo aumento dos combustíveis, caso dos produtores rurais, e começa a provocar desabastecimento de produtos essenciais.
Mais do que a inabilidade, o problema de Temer é a falta do que oferecer aos caminhoneiros. Está fora de cogitação mudar a política de preços da Petrobras, que oscila de acordo com a variação do dólar e dos preços internacionais. Essa é uma exigência do presidente da Petrobras, Pedro Parente, para permanecer no cargo. Temer aceitou e reuniu seus sábios para buscar alternativas, mas, no início da noite a Petrobras anunciou uma redução de 10% no preço do diesel, por 15 dias, tempo necessário para o governo negociar.
A primeira medida concreta apresentada foi zerar a alíquota da Cide, coisa que é possível fazer por decreto, mas tem baixo impacto no preço final – algo como cinco centavos no litro do diesel. Os caminhoneiros querem mais. Veio então a ideia de reduzir o PIS/Cofins, mas o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, condicionou a aceitação do corte de receita à aprovação de uma compensação. A contrapartida seria a aprovação do projeto de reoneração da folha de pagamento das empresas, que está parado na Câmara. O problema é que isso equivale a dar com uma mão e tirar com a outra: o aumento no custo das empresas vai provocar demissões em um momento particularmente difícil para quem está em busca de emprego.
A redução do ICMS esbarra na dificuldade dos Estados em abrir mão de qualquer centavo de receita. Casos como o do Rio Grande do Sul, que sequer está conseguindo pagar a folha em dia, tornam difícil um acordo que implique sacrifícios.
Nas últimas duas greves de caminhoneiros – em fevereiro e novembro de 2015 – não faltaram líderes do MDB perfilados ao lado de caminhões com faixas contra o governo de Dilma Rousseff, do qual Temer era o “vice decorativo”. Os aliados eram inimigos na trincheira, insuflando os grevistas para enfraquecer ainda mais uma presidente que começara o segundo mandato fragilizada.
Deputados como Osmar Terra e Darcísio Perondi discursavam dizendo que a culpa pelo alto preço do combustível era de Dilma. Hoje, o mesmo MDB diz que a responsabilidade pelo alto preço do combustível é de Dilma, que represou os aumentos internacionais do preço do petróleo e quebrou a Petrobras. De fato, Dilma segurou o preço nas bombas e deixou o prejuízo com a Petrobras, mas a cobrança que Perondi fazia em 2015 era que ela aumentara os preços do diesel, mesmo com a queda do preço do barril.