Antes de ler os anexos da delação do ex-ministro Antônio Palocci, negociada com a Polícia Federal, os líderes petistas – a começar pela ex-presidente Dilma Rousseff – já decidiram que é tudo mentira. Os antigos companheiros devem estar se baseando em manifestações anteriores do ex-ministro e usando um placebo como vacina para se proteger dos eventuais estragos da delação. Porque Palocci sabe demais e foi protagonista das campanhas vitoriosas do PT e dos governos de Lula e Dilma.
Palocci, não custa lembrar, coordenou a campanha de Dilma em 2010 e foi chefe da Casa Civil até eclodir o escândalo do aumento inexplicável de seu patrimônio, em junho de 2011. Palocci caiu porque a Folha de S.Paulo revelou que seu patrimônio crescera 20 vezes entre 2006 e 2010. Só em 2010, sua empresa, a Projeto, havia recebido R$ 20 milhões por serviços de consultoria. À época da queda, o ex-ministro invocou cláusulas de confidencialidade para não revelar quem eram os clientes de sua empresa.
O ex-prefeito de Ribeirão Preto tinha sido um dos homens fortes do primeiro mandato do ex-presidente Lula. Foi uma surpresa geral quando Lula o nomeou ministro da Fazenda – e não da Saúde, já que é médico de formação. No livro Sobre Formigas e Cigarras, que publicou em 2007, Palocci conta detalhes da escolha e de como construiu as boas relações com o empresariado.
Demitido por Lula em 2006, meio a outro escândalo, o da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, Palocci foi reabilitado pelo PT quatro anos depois e formou com José Eduardo Cardozo e José Eduardo Dutra a trinca que coordenou a primeira campanha de Dilma em 2010. Nesse papel e com as ligações que tinha no meio empresarial, foi chave na negociação de doações – legais ou ilegais – para a campanha. Na lista de propina da Odebrecht, era o Italiano.
Quando dizem que Palocci mentiu para obter as vantagens da delação premiada, os petistas devem estar se baseando no depoimento do ex-ministro ao juiz Sérgio Moro, em 6 de setembro de 2017, quando falou em “pacto de sangue” entre Lula e o empresário Emílio Odebrecht.
– Eu chamei de pacto de sangue porque envolvia um presente pessoal, que era um sítio (o de Atibaia), envolvia um prédio de um museu pago pela empresa, envolvia palestras pagas a R$ 200 mil, fora impostos, combinadas com a Odebrecht para o próximo ano, várias palestras, envolvia uma reserva de R$ 300 milhões.
Vinte dias depois, na carta que escreveu à senadora Gleisi Hoffmann, pedindo desfiliação do PT, Palocci reafirmou que as declarações dadas no depoimento a Moro “são fatos absolutamente verdadeiros”, situações que presenciou, acompanhou ou coordenou, “normalmente junto ou a pedido do ex-presidente Lula”.
Desde então, Palocci virou persona non grata no PT. Traidor é o mínimo que os antigos companheiros dizem dele.
Aliás
Com tudo o que Antonio Palocci contou ao juiz Sergio Moro em 2017, a delação premiada só faz sentido se vier acompanhada de documentos que comprovem a veracidade das declarações que comprometem os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff.