Na terça-feira, 28 de novembro, Tailor Diniz e eu completaremos 30 anos de casamento. Escolhi esse dia em homenagem aos meus pais, que também se casaram em um 28 de novembro, 28 anos antes. Pequena superstição de quem cresceu numa família feliz. Optamos por uma cerimônia civil, porque nossas convicções não nos permitiam jurar diante de Deus que seria para sempre, na alegria ou na tristeza, até o fim dos nossos dias.
No começo, dividimos a pobreza e a expectativa. Depois, os desafios, as conquistas e dois filhos que fizeram a vida ganhar um novo sentido.
Olhando pelo retrovisor, penso que se tivéssemos nos conhecido agora, e não em 1982, essa família talvez não existisse. Porque aquilo que nos parecia normal na década de 1980, o flerte entre colegas de trabalho, hoje pode dar processo judicial por assédio. Minha geração só considerava assédio quando havia relação de poder. Entre colegas do mesmo nível, a aproximação era natural. Se um dos dois não quisesse, a "cantada" morria por ali e seguíamos amigos. Brincávamos que jornalista é uma raça que se reproduz em cativeiro, tantos são os casais formados nas redações.
Hoje as coisas mudaram. Olhar no olho ou elogiar a beleza de alguém pode ser interpretado como crime de lesa-dignidade. Não creio que tenha sido meu belo texto o motivo que levava o Tailor a me acompanhar de madrugada até a parada de ônibus (sim, em 1982 eu ia do Centro para Petrópolis em um ônibus da Carris) e depois a me convidar para jantar no Treviso, o inesquecível restaurante do Mercado Público, onde um velhinho tocava La Cumparsita no bandoneon quando nos via chegar.
Meu amigo Daniel Scola conta que se interessou pela colega Gabriella Bordasch quando trabalharam juntos na TV. Não sabia como encaminhar uma conversa mais pessoal, embora tivessem trocado alguns olhares que o enchiam de esperança. Um dia, Gaby saiu da redação e deixou o celular sobre a mesa. O telefone tocou. E o toque era de uma música do The Who. Scola mandou uma DM pelo Twitter: "É teu celular que toca The Who quando alguém liga?". E passou a elogiar o gosto musical dela. Era só uma gentileza, mas evoluiu para um namoro e acabou em casamento. No dia 2 de novembro nasceu Joana Bordasch Scola, a menina cuja vida deve ter uma música do The Who como primeira trilha sonora.