A quitação dos salários de 99,6% dos professores, com o pagamento de quem ganha até R$ 6,5 mil, não foi suficiente para encerrar a greve do magistério, iniciada em 5 de setembro. Foram 1.160 votos a favor da manutenção da greve e 578 contrários, um placar folgado entre os participantes, mas com um quórum baixíssimo para uma categoria que reúne mais de 70 mil pessoas em atividade. O conselho do Cpers recomendou a volta às aulas, mas a ala mais radical do sindicato dominou a assembleia com um discurso político forte e conseguiu aprovar a continuidade de paralisação.
Pelo rumo do movimento, os alunos das 50 escolas que estão totalmente paralisadas perderão o ano letivo de 2017. Essas escolas representam 2% das 2.545, mas são as maiores e estão localizadas em cidades de médio e grande porte. Das 257 de Porto Alegre, cinco estão fechadas. Não há previsão de atendimento das demandas do grevistas, que exigem garantia de pagamento em dia nos próximos meses e do 13º salário, além da abertura de negociação de uma reposição salarial de 21,85%.
O número de professores parados é um mistério. Na assembleia, a presidente do Cpers, Helenir Schürer, falou em 4.593. O governo do Estado não sabe quantos estão de fato parados, porque o relatório de efetividade de outubro ainda está sendo fechado. Em setembro, eram 13.716.
Transmitida ao vivo pelo Facebook do Cpers, a assembleia mostrou a divisão do sindicato e forte conteúdo político dos discursos. O grupo liderado pela ex-presidente Rejane de Oliveira, derrotada por Helenir na eleição passada, acabou ganhado a adesão de dirigentes ligados ao PSOL. “Vamos derrotar o governo golpista do PMDB”, era uma das frases mais repetidas.
Mais moderada, Helenir defendeu o fim da greve por entender que esse era o sentimento da base, expresso na baixa adesão. Há poucos dias, o sindicato dizia que 75% dos professores estavam parados.
O pagamento dos salários em dia independe da greve. Está condicionado ao sucesso da operação de venda de ações do Banrisul, prevista para o início de dezembro, e repudiada por dirigentes de sindicatos de servidores públicos. Não há previsão de outro ingresso de receita extra para pagar os salários e o 13º em dia.
Para pais e alunos das escolas que estão com as atividades suspensas, a dúvida é como o prejuízo será recuperado. Estudantes do 3º ano do Ensino Médio que venham a ser aprovados no vestibular correm o risco de não conseguirem se matricular. Para as crianças das séries iniciais, em processo de alfabetização, a maior preocupação das famílias é com a desmotivação. As férias em janeiro e fevereiro já estão comprometidas. Em sua última contraproposta, o Cpers pleiteou a recuperação das aulas somente no início do ano letivo de 2018, para garantir as férias de 45 dias em janeiro e fevereiro. O governo disse não e classificou a sugestão como “pedagogicamente absurda”.