As histórias de corrupção desvendadas pela Operação Lava-Jato se cruzam como nos filmes ou nas novelas, superando a imaginação dos autores. Em uma obra de ficção pareceria forçado que, na mesma terça-feira, tenham vindo a público os áudios de Joesley Batista dizendo que a delação da JBS deveria ser "a tampa do caixão" e as fotos da dinheirama guardada no bunker do ex-ministro Geddel Vieira Lima. Na vida real do Brasil de 2017, tudo se encaixa e faz sentido.
Os caciques do PMDB estavam comemorando o empastelamento da delação de Joesley Batista e já contando com a anulação das provas entregues pelo dono da JBS quando a Polícia Federal divulgou as mais impressionantes fotos de apreensão de dinheiro desde que a Lava-Jato começou, há dois anos. No bunker que a investigação diz ser de Geddel, um apartamento em Salvador, foram encontradas oito malas de tamanho médio e cinco caixas recheadas de notas de R$ 100 e de R$ 50. Tanto dinheiro que a PF decidiu levar para um banco fazer a contagem e abrir uma conta de depósito judicial.
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Temer e os aliados, que já contavam com a desmoralização do procurador Rodrigo Janot, terão que se conter diante da última de Geddel. Porque o ex-ministro não é apenas mais um do grupo que, até ser preso, tomava vinho com o presidente no Palácio do Jaburu. Ele é um dos homens de Michel Temer. Foi ministro na primeira formação e só caiu porque, achando-se o todo-poderoso, pressionou o então ministro da Cultura, Marcelo Calero, a atropelar as regras e autorizar a construção de um edifício mais alto do que o permitido perto do Farol da Barra, no Centro Histórico de Salvador.
Se fosse limpo, o dinheiro encontrado em caixas e malas em um apartamento de Salvador estaria registrado e depositado no sistema financeiro. O desafio dos investigadores será descobrir de onde veio essa dinheirama toda e se era Geddel o destinatário final.
Ferido com a descoberta de que o procurador Marcelo Miller atuou como agente duplo e trabalhou para Joesley antes de pedir demissão, o Ministério Público Federal deve ao país a elucidação de todos os pontos ainda obscuros. O acordo de colaboração firmado com os donos da JBS terão, obrigatoriamente, de ser revisto, porque Joesley não só descumpriu a sua parte, como debochou das instituições. Enredou-se porque, de tanto gravar terceiros, gravou a si mesmo e entrou o áudio, por engano, ao MPF. As provas que entregou têm valor. Mesmo que sejam desqualificadas para condenar alguém, como sugerem os advogados de defesa, cumpriram o papel de fazer desmoronar biografias construídas no pântano da corrupção. O eleitor tem elementos para varrer do mapa político esses usurpadores.