A passagem do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), por Porto Alegre, nesta segunda-feira, confirmou que ele está em campanha aberta para ser o candidato do PSDB a presidente da República e busca apoio externo para se legitimar. Em almoço organizado pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), do qual é fundador, Doria deveria falar sobre gestão pública, mas tangenciou o tema e gastou a maior parte do tempo atacando o PT e alertando para o risco da volta do ex-presidente Lula. Nem precisava: a plateia, formada por empresários e executivos de orientação liberal, já era antipetista.
Depois de alertar para o risco de uma “vitória do extremismo”, referindo-se a Lula pela esquerda e a Jair Bolsonaro pela direita, criticou o PSDB por ter subestimado a força do PT em eleições anteriores.
– Meu partido adotou a tese do “deixa sangrar” e acabou ajudando a eleger e reeleger o PT, que destruiu o país – disse, enfileirando dados sobre desemprego, corrupção e estagnação, que considera o legado perverso da legenda.
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Desde a entrada no salão principal da Associação Leopoldina Juvenil, o comportamento foi de candidato, embora tenha dito que não precisa concorrer e que só quer “defender o Brasil”. Durante a palestra, desceu do púlpito e caminhou entre as mesas para ficar mais próximo da plateia. O evento, como outros do Lide com a presença de Doria, foi aberto com o Hino Nacional e encerrado com a música tema das vitórias de Ayrton Senna na Fórmula-1. Foi aplaudido de pé.
Dória repetiu, praticamente sem alterar a sequência, o discurso que fizera no Fórum da Liberdade, em abril. Apresentou-se como um vencedor, uma pessoa que venceu a pobreza inspirado na coragem da mãe e aprendeu com o pai valores como “hombridade, decência e moralidade”.
– Sou um guerreiro, um lutador – sintetizou.
Diante de empresários como José Galló (Lojas Renner) e de políticos como o vice-governador José Paulo Cairoli, reafirmou o discurso da antipolítica. Gabou-se de não aceitar indicações de partidos para compor sua equipe. Contou que quando venceu a prévia no PSDB, rejeitou os conselhos para ter um vice de outro partido e escolheu o derrotado, Bruno Covas:
– Eu disse: não tem negociação. Quero chapa pura.
Sobre gestão, ficou nas generalidades. Defendeu a política econômica do presidente Michel Temer e disse que ela precisa continuar. Pregou eficiência, inovação e seriedade com a coisa pública, receitas que estão em qualquer manual de administração pública.
Candidatos na plateia
Dois pré-candidatos ao Piratini acompanharam a palestra de Doria em Porto Alegre: Eduardo Leite (PSDB) e Mateus Bandeira (Novo). Admirador de iniciativas de Doria, especialmente das privatizações, Bandeira lamentou que o prefeito não tenha se aprofundado nas soluções para os problemas do país.
Os prefeitos dos principais municípios governados pelo PSDB (Porto Alegre, Pelotas, Santa Maria e Novo Hamburgo), participaram do almoço, mas Doria só citou Nelson Marchezan, a quem mais de uma vez chamou de “Nelsinho”.
Depois do almoço, Doria foi a Novo Hamburgo. De helicóptero, para não perder tempo na estrada.
Aliás
Quem acompanhou a última visita de Geraldo Alckmin a Porto Alegre não teve como evitar a comparação entre o discurso dele e o de Doria. Líderes do PP e do PSDB avaliaram que, em matéria de conteúdo, Alckmin é mais consistente.