A rejeição maciça dos brasileiros à criação de um fundo público de R$ 3,6 bilhões para financiar candidatos abre caminho para uma discussão inadiável: o que fazer para baratear o custo das campanhas. Basta dessa pirotecnia que, para esconder a falta de ideias e propostas, torra bilhões de reais em propaganda. Só depois o eleitor descobre que comprou gato por lebre e que, uma vez no cargo, aquele gênio com soluções para tudo se revela um incapaz.
A era das campanhas milionárias floresceu a partir de 1989. Na primeira eleição direta depois da ditadura, o marketing elegeu um embuste. Fernando Collor apresentou-se como o novo em uma eleição repleta de gente com currículo mil vezes mais consistente. Com o sucesso de Collor, o marketing político foi guindado à categoria de divindade. Produziu milionários como Duda Mendonça e João Santana, dois fazedores de presidentes (e de governadores) que caíram em desgraça com a Lava-Jato.
No passado, quando não existia propaganda na TV nem marqueteiros, os candidatos iam ao encontro dos eleitores em comícios, os simpatizantes faziam campanha nos grotões e ninguém precisava interpretar um papel para ser eleito. Grandes figuras que hoje são nome de rua fizeram carreira política sem precisar gastar uma fortuna na campanha. O voto era naturalmente distritalizado e todas as regiões acabavam tendo representantes.
Com o fim das doações empresariais, que o mensalão e a Lava-Jato mostraram ser uma fonte de corrupção, será preciso reaprender a fazer campanha sem cabos eleitorais pagos, sem produções cinematográficas, sem marqueteiros remunerados a peso de ouro. O custo mínimo pode ser bancado pelo fundo partidário que já existe e por doações de pessoas físicas, como foi na eleição municipal. É verdade que em 2016 o grosso das doações veio de empresários que contribuíram como pessoas físicas e, em muitos casos, tomaram emprestado o CPF de parentes para ajudar a financiar seus preferidos.
Desencantado com a política, o eleitor médio não se mostra disposto a abrir a carteira. Os candidatos terão de se desdobrar para recuperar a confiança perdida com os escândalos que mostraram o uso de cargos públicos para enriquecimento ilícito.
ALIÁS
Uuma pesquisa do Instituto Paraná com 2.802 eleitores mostrou que 87,4% são contra o financiamento público das campanhas,8,9% aprovam e 3,7% não souberam responder.