Os cavalheiros que sob o comando de Michel Temer se reuniam em torno da mesa para desenhar a "ponte para o futuro" e tramar a queda da então presidente Dilma Rousseff dividem-se hoje em dois grupos: os que estão na cadeia porque não têm mandato, nem cargo de ministro, e os detentores de foro privilegiado, investigados com autorização do Supremo Tribunal Federal. Geddel Vieira Lima passou nesta segunda-feira do segundo grupo para o primeiro, formando um trio com Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves. Denunciado pelo procurador Rodrigo Janot por corrupção, Temer segue à frente do segundo grupo, traçando estratégias para escapar do processo em um território que domina, a Câmara dos Deputados.
Na segunda turma, a dos investigados que ainda privam da intimidade do presidente, estão os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco e o senador Romero Jucá.
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Geddel, Jucá e Henrique Alves têm em comum o fato de integrarem a primeira formação do governo Temer – e de terem caído no tempo em que o presidente ainda demitia auxiliares envolvidos em escândalo.
O grupo inteiro tem no currículo a participação ativa nos governos petistas de Lula e Dilma Rousseff, em cargos de primeiro escalão – ou de segundo com muito poder, caso de Geddel na vice-presidência da Caixa Econômica Federal, motivo da prisão consumada nesta primeira segunda-feira de julho. Eles ainda são a cúpula do PMDB. Boa parte desse time jogou na seleção de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), fazendo jus à máxima de que, se existe governo, o PMDB é a favor, mesmo nunca tendo conseguido eleger o presidente. Seus dois últimos candidatos foram Ulysses Guimarães em 1989 (sétimo lugar) e Orestes Quércia em 1994 (quarto lugar).
Outros dois personagens relevantes na história do PMDB estão marginalizados: o senador Renan Calheiros, que por oportunismo político virou adversário, e o ex-presidente José Sarney, semiaposentado, embora tenha conseguido emplacar o filho no Ministério do Meio Ambiente.
É esse PMDB atingido em cheio pela Lava-Jato e por outras operações correlatas, como as que desvendaram o milionário esquema de corrupção liderado por Sérgio Cabral no Rio de Janeiro, que tenta garantir a permanência de Temer no Planalto até o fim de 2018.
O sucesso dessa empreitada depende do que a Polícia Federal e o Ministério Público Federal conseguirem apurar sem depender de novas delações premiadas. Os acordos já fechados deram material para a abertura de várias frentes de investigação. A última, a do doleiro Lúcio Funaro, atinge o coração do PMDB. Não por acaso, Geddel se incriminou mandando mensagens de texto para a mulher de Funaro, o que foi considerado tentativa de obstrução de Justiça.
A revista Piauí informou nesta segunda-feira que a delação mais temida pelo Planalto é a de Eduardo Cunha. Sorte de Temer que os procuradores do MPF resistem em fazer acordo com quem é considerado integrante do topo da pirâmide dos esquemas de corrupção.
Aliás
Como nas eleições anteriores, o PMDB não tem um candidato competitivo para disputar o Planalto em 2018. A estratégia do partido tem sido eleger bancadas numerosas na Câmara e no Senado para seguir dando as cartas, seja quem for o eleito.