As semelhanças entre os movimentos de Rodrigo Maia nestes primeiros dias de julho e os de Michel Temer no início de abril de 2016 não são mera coincidência. Por meio da Fundação Ulysses Guimarães, o PMDB lançou a "ponte para o futuro", espécie de carta de intenções para 2018, mas que deveria ser lida como um programa de governo pós-Dilma. Maia faz o mesmo ao mandar dizer para o mercado que, se virar presidente, manterá a equipe econômica e a agenda de reformas.
Em Buenos Aires, Maia jurou fidelidade a Temer e disse que o DEM será o último partido a sair da base aliada. Esse é o discurso. Na prática, o DEM fez o mesmo que o PSDB: liberou seus deputados para votarem como bem entenderem no processo em que a Câmara decidirá o futuro de Temer.
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O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) foi didático na entrevista que deu ao programa Gaúcha Atualidade na manhã de sexta-feira.
– A situação (de Temer) se deteriorou muito nas últimas horas – disse Cunha Lima.
Na véspera, em reunião com empresários, o senador chegou a dizer que Temer cairia nos próximos 15 dias. À Rádio Gaúcha, esclareceu que foi força de expressão: como é preciso queimar etapas na Câmara, o desfecho deve ficar para agosto.
Os tucanos trabalham com um cenário em que a Câmara dará autorização para que Temer seja processado. Virando réu, o presidente teria de se afastar por 180 dias, um rito semelhante ao do impeachment. Neste caso, Maia assumiria automaticamente, por ser o primeiro na linha de sucessão. A eleição indireta só ocorreria em caso de vacância – por condenação pelo Supremo Tribunal Federal ou por renúncia.
Pelas declarações dos tucanos, a começar pela manifestação do presidente interino do partido, Tasso Jereissati, o PSDB desembarcará do governo Temer assim que for aprovada a reforma trabalhista. E dará apoio a um eventual governo Maia. Cunha Lima lembrou que não se trata de acordo nem de eleição indireta: é a Constituição que prevê a transferência do poder ao presidente da Câmara, já que o país hoje não tem vice-presidente.
Se são claros os sinais de que Maia manterá a equipe econômica, o mesmo não se pode dizer sobre o destino dos oito ministros que estão sob investigação. O mais provável é que afaste pelo menos os integrantes da lista de suspeitos de envolvimento direto em esquemas de corrupção, caso de Moreira Franco, que é casado com a sogra de Maia.
Aliás
O PSDB marcou para segunda-feira uma nova reunião para decidir se sai ou se fica no governo Temer. Na última, a decisão foi continuar para evitar que a crise se agravasse. Agora, os tucanos indicam que a solução atende pelo nome de Rodrigo Maia.