Por mais que os delegados da Polícia Federal apresentem argumentos consistentes para o desmonte do grupo que atuava com dedicação exclusiva em Curitiba, a reação dos procuradores federais revela uma fissura profunda na Lava-Jato. Com o casco avariado, a investigação tende a sofrer prejuízo no Paraná, embora suas ramificações avancem Brasil afora. O grupo que agia como um time afinado se desfaz.
A nota de seis pontos divulgada pelos procuradores federais que integram a força-tarefa não deixa margem para outra interpretação: o Ministério Público Federal está se sentindo boicotado. Já na introdução, os procuradores "manifestam sua discordância em relação à dissolução do grupo Lava-Jato no âmbito da Polícia Federal". A nota começa com um balanço da operação até aqui:
- 844 buscas e apreensões em 41 fases, com a apreensão de milhares de documentos.
- Rastreamento de 21 milhões de transações, envolvendo mais de R$ 1,3 trilhão.
- 280 pessoas acusadas por crimes como corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa e centenas ainda sob investigação.
- Recuperação de mais de R$ 10 bilhões e potencial para resgatar mais, "se os esforços de investigação prosseguirem".
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A PF sustenta que não haverá prejuízo à investigação, porque os delegados continuarão atuando na Delegacia de Combate à Corrupção e Desvio de Verbas Públicas. Os procuradores contestam e alertam que, além da redução do número de delegados, se perderá um dos principais ativos da Lava-Jato, que é o conhecimento profundo desse esquema de corrupção.
"A distribuição das investigações para um número maior de delegados e a ausência de exclusividade na Lava-Jato prejudicam a especialização do conhecimento e da atividade, o desenvolvimento de uma visão do todo, a descoberta de interconexões entre as centenas de investigados e os resultados", diz um dos trechos da nota.
Como é notório que o excesso de autonomia do grupo de Curitiba incomoda muita gente, incluindo os sem-mandato, será difícil convencer os brasileiros de que o objetivo é a racionalização e não o boicote.
Aliás
A substituição de José Fogaça por Carlos Marun na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara indica que o PMDB tem medo do resultado na votação que decide o futuro de Michel Temer. Para Fogaça, é uma medalha de reconhecimento à independência.