Enfim, conheci Alice, que há cinco meses forma com os pais, Ana e Alexandre, uma família AAA, não apenas pelas iniciais dos nomes, mas pela forma como foi constituída. Alice foi gerada na alma dos pais, no momento em que entraram na fila e se dispuseram a enfrentar o cipoal burocrático que é preciso transpor quando se decide adotar uma criança. Pelo Facebook, com textos irretocáveis, acompanhei a emoção do Alexandre com a chegada da menina recém-nascida e seus primeiros dias na família AAA.
No aniversário de um amigo comum, conheci a doce Alice, já registrada com os sobrenomes alemão da mãe e italiano do pai. E vi uma cena emocionante, que só se materializou porque ao milagre do amor somou-se uma descoberta notável da medicina: Alice mama no peito. O corpo dessa mãe que viveu um parto incomum produz o alimento que o bebê mais precisa para crescer saudável.
O carinho de Alexandre e Ana com a filha me fez voltar três décadas atrás, quando Gabriela chegou para encher de luz a vida de Bárbara e Sérgio, amigos queridos que também tiveram uma filha gerada na alma. Serginho viveu para ver sua Gabriela entrar na Faculdade de Medicina. Bárbara viu sua menina receber o diploma e acompanha o dia a dia da doutora Gabriela na residência em psiquiatria.
As histórias de Alice e Gabriela renovam minha crença na humanidade. Porque considero a adoção um ato de amor incomparável. A adoção por casais homossexuais foi um avanço e ampliou o leque de possibilidades para crianças que por uma ou outra razão não crescerão com os pais biológicos.
Nada contra os que, como o jogador Cristiano Ronaldo, preferem uma barriga de aluguel para gerar filhos que carreguem o seu DNA, mas adotar um recém-nascido ou uma criança mais velha, gerados por pais cuja história ignoramos, me comove mais. Cristiano Ronaldo, o melhor jogador do mundo, precisou recorrer a uma barriga de aluguel nos Estados Unidos para gerar os gêmeos Mateo e Eva, porque a lei de Portugal não permite a um homem solteiro recorrer à ciência para ter herdeiros que não terão uma mulher a quem chamar de mãe.