Em 1972, ano em que o juiz Sergio Moro nasceu, Luiz Inácio da Silva ainda não tinha o apelido Lula incorporado ao nome nos documentos, mas já era um sindicalista conhecido no ABC paulista. Foi em 1972 que Lula se elegeu 1º secretário do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Quarenta e cinco anos depois, o juiz de Curitiba condenou o ex-presidente a nove anos e seis meses de prisão. A sentença era pedra cantada, mas o dia 12 de julho de 2017 irá para os livros como aquele em que, pela primeira vez, um ex-presidente da República foi condenado à prisão por corrupção e lavagem de dinheiro.
Lula terá o direito de recorrer em liberdade – o juiz fez questão de dizer na sentença que não pedia a prisão imediata dele. Em mais um ineditismo da política brasileira, poderá ser o primeiro candidato a concorrer à Presidência da República enquanto espera o Tribunal Federal da 4ª Região (TRF4) decidir se mantém a condenação ou se o absolve.
Leia mais:
Fogaça se irrita e resolve sair em definitivo da CCJ da Câmara
PT deve começar a pensar em um plano B para 2018
Bernardinho está no páreo para a disputa ao Planalto em 2018
O tempo passa a ser um fator crucial para a eleição de 2018. Lula só não poderá ser candidato se já tiver sido condenado em segunda instância na hora de registrar a candidatura, daqui a pouco mais de um ano. Pelo tempo decorrido entre o ingresso de outros recursos de condenados e o julgamento no TRF4, o desfecho pode ficar para depois da eleição, embora os desembargadores a quem caberá julgar o recurso já estejam familiarizados com o processo.
Diante da possibilidade de Lula tornar-se inelegível, o PT deveria começar a pensar desde já em um plano B, mas a tendência é o partido cerrar fileiras em torno de seu líder. Primeiro, porque é real a chance de os recursos não serem julgados até o início da campanha. Segundo, porque é improvável, mas não impossível que o ex-presidente seja absolvido, como foi o tesoureiro do PT João Vaccari Neto. Terceiro, porque o PT não tem outro nome com densidade eleitoral para disputar a eleição. Por último, mas não menos importante, porque Lula, mesmo acossado pela Lava-Jato, ainda aparece em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto. Também é o primeiro em rejeição, mas esse dado seus seguidores preferem ignorar.
As próximas pesquisas mostrarão os efeitos da condenação sobre a imagem de Lula. Mesmo em primeira instância, uma condenação por corrupção é um prato cheio para os adversários. Os bons índices de Lula até aqui são explicados por cientistas políticos por uma combinação de fatores: ele é o mais conhecido entre os possíveis candidatos, os eleitores têm boas lembranças das políticas sociais de seu governo, não tinha sido condenado e a concorrência é fraca.
O PSDB, adversário histórico do PT, viu seu presidente e último candidato ao Planalto, Aécio Neves, ser tragado pela Lava-Jato.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito João Doria, duas opções tucanas, aparecem nos levantamentos atrás de Marina Silva (Rede) e até do inacreditável Jair Bolsonaro. O PMDB não tem sequer um nome competitivo. O PDT vai de Ciro Gomes, que patina nas pesquisas.
Aliás
O descrédito dos políticos em geral abre espaço para uma novidade na eleição de 2018, como ocorreu com Emmanuel Macron na França. O presidente criou um partido para concorrer, derrotou os socialistas no primeiro turno e a extrema-direita no segundo.
No mesmo barco
Se tivesse ocorrido há um ano, a condenação do ex-presidente Lula teria sido recebida com foguetório pelos líderes do PSDB e do PMDB. A comemoração foi discreta. Afinal, todos os grandes partidos estão no mesmo barco, com seus líderes ameaçados pelo "efeito Orloff". A frase "eu sou você amanhã" ecoa nos ouvidos dos que estão presos ou sob investigação. O que garante um mínimo de tranquilidade aos adversários do PT é o foro privilegiado.